Noções básicas sobre a terapia de família

 Noções básicas sobre a terapia de família

image0022By Luganus in 23 de outubro de 2008 (Quinta-feira)

Existem inúmeros autores e obras que tratam da terapia familiar. Durante as supervisões já mencionei vários: Carl Whitaker, V. Satir, M. Andolfi, S. Minuchin, J. Haley, P. Papp, etc. Todos estes têm um estilo próprio, conforme já explanei, mas existem alguns pontos básicos. São estes que passo a narrar.
Usarei J. Haley como referência (Aprendendo e ensinando terapia. ARTMED, 1998)
Vocês já leram alguns textos dele no estágio I

Estágio I

Haley, J. Aprendendo e Ensinando Terapia. Ed. ArtMed.

Cap.5 O que aprender e o que ensinar

Cap.6 A melhor teoria

Cap.7 Questões polêmicas

Na p. 172 há uma seção intitulada “Como iniciar a primeira entrevista”, se possível leiam o capítulo inteiro, melhor ainda será ler toda a obra, mas numa situação emergencial coloco aqui alguns pontos.

1- Toda mensagem na sala de terapia é dirigida ao terapeuta. Se um cliente está muito ansioso isto revela não só seu estado emocional, mas comunica algo (ansiedade) ao terapeuta. Mas não se preocupe com isto agora prezado supervisando. Isto é só p/ o teu inconsciente saber.

2- Não interpretem diretamente o comportamento não-verbal (corporal) dos clientes.

3- Esta situação para a família pode ser nova, muitas famílias não têm o hábito de conversar em conjunto. Então, esta pode e deve ser uma diretiva imposta, com elegância e permissão, pelo terapeuta (vide b)

Simulando:

a) Etapa social – Acolhendo a família. É importante todos estarem bem à vontade.

Como no Rio de Janeiro costuma estar quente é bom ter água fresca por perto.

“Bem, estamos aqui reunidos e antes de iniciar quero saber se todos vieram juntos de casa e como foi para chegarem aqui?” (A idéia aqui é deixar a família mais a vontade)

b) Assumindo o comando – colocando diretivas para a família

Agora que todos falaram deixem-me explicar como funcionará melhor esta entrevista.

Primeiro quero pedir a permissão de todos para interrompê-los quando eu achar que poderemos ganhar mais tempo e conhecimento sobre a dinâmica da família de vocês. Certo? (É importante obter um Yes set de cada, um- olho no olho, chamando pelo nome).

Outra coisa, eu precisarei (o terapeuta precisará) anotar e/ ou gravar, etc. Certo? (Em caso de gravação há um documento que deve ser assinado pelo responsável, em geral o pai)

E, por último, informo que esta entrevista inicial tem como objetivo ouvir como cada um percebe o problema e também aprender sobre os recursos de cada um que poderão ser usados para ajudar uns aos outros.”

c) Iniciando a entrevista – Exploração geral da dinâmica da família.

“Bom, já que vocês entenderam que se eu interromper esta será uma questão técnica e não uma falta de cortesia de minha parte (olhe novamente p/ todos – Yes set não-verbal) apreciaria que todos dissessem, de uma forma resumida, o que estiver passando pelas suas cabeças, um de cada vez para que possam ouvir uns aos outros”.

(Se houver impasse, passe a palavra aos pais, o pai primeiro e depois a mãe. A hierarquia não é uma questão rígida, mas deve ser respeitada).

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Friso aqui um pressuposto básico da terapia estratégica sistêmica: após ouvir o breve relato de cada um e anotar, se quiser (é bom que o faça)… Pense sempre em fazer as pessoas conversarem entre si. Jamais fique conversando com um membro enquanto os outros ficam de fora, procure enredar todos na terapia.

Leve estas instruções junto com você e consulte ou faça um resumo destes passos para olhar e seguir. Aja naturalmente, não fique olhando como se estivesse colando numa prova. Sei que vocês não fazem isto, mas já viram alguém fazer.

Seja franco, caso alguém faça perguntas: “Você tem filhos?”… “Não.”

“Quantos casos você já atendeu?”… “Um, dois, etc.”

“Então você tem pouca experiência?” … “Sim. Justamente por isto é que precisamos treinar… Temos um treinamento, um supervisor, e lemos sobre vários casos e participamos de tantos outros, etc.” Seja breve e direto. (Veja A entrevista inicial de A. Lazarus também.)

Lembre-se, se você estiver à vontade com a sinceridade isto irá contagiar o ambiente.

Após todos falarem, procure os pontos em comum (queixas) e faça com que pensem em soluções, proponha negociações. Numa negociação todos devem sair ganhando algo. Um diálogo não são dois monólogos!

as-cinco-garrafas-da-vida-duas-opcionaisO que o terapeuta pode e deve fazer:

1- Mantenha-se no comando, seja gentil e firme.

2- Caso alguém esteja perturbando a ordem ou com dificuldade de fazer/dizer algo, cabe ao terapeuta decidir se pede para aquela pessoa aguardar um pouco lá fora, em se tratando de cliente com idéias suicidas ou drogadicto, é sempre bom que ele vá acompanhado por alguém da família. Pode haver segredos (abusos), então o membro pode ser ouvido sozinho.

3- Faça resumos/devoluções (Backtrackframe) , lembre-se do VAKOG. Certifique-se de que você entendeu e que os outros membros entenderam as posições e os argumentos.

4- Não aceite violência, mesmo sendo verbal! Proteja a todos, inclusive ao membro da família que está dizendo coisas que talvez se arrependa mais tarde. Ninguém tem o direito de humilhar ninguém!

5- É preciso achar um objetivo comum na família. Numa entrevista inicial de reconhecimento da família este é o objetivo da entrevista. Mas esta irá girar em torno da demanda inicial de um membro da família, caso este tenha vindo para uma terapia individual no SPA. Após ouvir todos os membros e fazê-los conversar entre si sobre seus pontos de vista a respeito do problema apresentado ( o uso de drogas, esquizofrenia, depressão, anorexia, suicídio, bulimia, síndrome do pânico, etc)…

Então o terapeuta irá agradecer a todos e informar que levará estes dados até a supervisão e que em breve entraremos em contato para propor algumas soluções. Caso haja alguma ameaça de suicídio ou de violência será recomendada vigilância (24h) ou mesmo internação, se os membros da família acharem melhor.

De posse deste material, aonde devem estar algumas outras informações (abaixo) iremos elaborar a próxima sessão, se for o caso, ou recomendar terapia de família fora da UERJ, caso haja variáveis de complexidade além da capacidade do momento do estágio.

Como foi o casamento? As reações dos parentes? Apoiaram?

O planejamento dos filhos. Houve aborto? ( Tudo isto deverá ser colocado com muita delicadeza, se for necessário, usem técnicas de citação – “Sabem, o supervisor contou um caso em que…” ou “Lá em casa minha mãe me contou, somente quando eu tinha tal idade, que ela teve que fazer um aborto”.

Obs. Esta greve impediu que as supervisões ocorressem conforme eu havia previsto, portanto este texto, produzido na madrugada, sob protestos de minha família, diga-se, não substitui a leitura dos textos dos estágios e além.

Apreciaria que todos estejam em dia com as leituras dos seus respectivos estágios para evitar serem atropelados pela demanda dos casos clínicos.

g1 Um forte abraço para todos… Celso Lugão da Veiga

Por Celso Lugão

Especializações em PSICOLOGIA CLÍNICA E HOSPITALAR. Exerce ATIVIDADE CLÍNICA fazem mais de 30 anos, tendo criado sua abordagem particular de PSICOTERAPIA ESTRATÉGICA. Possui MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL PELA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Atualmente é professor do INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UERJ tendo criado o setor de PSICOTERAPIA ESTRATÉGICA NO SPA DA UERJ EM 1988 e desde então atua como SUPERVISOR desta abordagem. Participou de forma intensiva do PROCESSO DE VALIDAÇÃO DA HIPNOSE como TÉCNICA PASSÍVEL DE SER UTILIZADA PELO PSICÓLOGO, fato este reconhecido pela SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPNOSE e pela SOCIEDADE DE HIPNOSE E MEDICINA DO RIO DE JANEIRO. Possui experiência em várias áreas da psicologia, a saber: EPISTEMOLOGIA DAS PSICOTERAPIAS (DESENVOLVIMENTO DE REFERENCIAIS EPISTEMOLÓGICOS E CLÍNICOS; ESTUDO DAS PERSPECTIVAS ESTRATÉGICA, ESTRUTURAL E SISTÊMICA EM RELAÇÃO AO INDIVÍDUO E A FAMÍLIA) ; PSICOLOGIA CLÍNICA E HIPNOLOGIA (TRANSDUÇÃO DA INFORMAÇÃO MENTE-CORPO, PSICOIMUNOLOGIA, TÉCNICAS HIPNÓTICAS, CORPORAIS, PSICODRAMÁTICAS E ESTADOS ALTERADOS DA CONSCIÊNCIA); TANATOLOGIA (MORTE, LUTO E SEPARAÇÕES); PROCESSOS DISSOCIATIVOS (TRAUMA, DISTÚRBIO DISSOCIATIVO DA IDENTIDADE, SÍNDROME DO STRESS PÓS-TRAUMÁTICO, SÍNDROME DO PÂNICO, SUICÍDIO, DROGADICÇÃO, PSICOSES); E ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA SUPERVISÃO (TREINAMENTO, INFORMAÇÃO E FORMAÇÃO ). (Text informed by the author)

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