Escrevi faz algum tempo, em 17/ 11/ 2002, o artigo
Reflexões sobre os módulos de psicoterapia.
Prof. Celso Lugão da Veiga.
Quando aprecio criticamente os módulos de psicoterapia dos quais participei como aluno, algumas impressões ficam nítidas e, talvez, fosse interessante compartilhar.
Nas décadas de 70, 80 e 90 fiz especializações nas áreas da Tanatologia, da Programação Neuro-Lingüística, Psicoterapia e Hipnoterapia Ericksoniana, EMDR, e mais algumas envolvendo temas como drogadicção, traumas e outros.
Recordo-me que, inicialmente percebi que havia sempre uma ambivalência de sentimentos. Um lado meu dizia que havia sido uma boa experiência… Aprendizagens novas, algumas complexas, haviam sido feitas.
Outro lado complementava indagando se eu não poderia aprender mais caso tivesse feito todas as leituras pertinentes antes de assistir aos cursos.
Uma terceira voz irremediavelmente cobrava a exposição pedagógica de alguns passos ocultos, sempre que havia alguma demonstração de técnicas.
E havia outras vozes críticas, algumas procuravam falhas no expositor, na exposição, na organização do evento, e até no clima: “Com um sol destes q. ki eu tô fazendo aki?!” ou “Aonde eu vim parar com uma chuva destas?!”.
Dependendo do peso destas vozes em meu interior às vezes achava que havia sido pouco tempo de curso, ou que pouco material havia sido visto, ou que havia conteúdos que precisavam ser expostos primeiro… Enfim, sempre senti certa ambivalência e confusão… E algumas vezes, “depressão”, ao ver os profissionais atuando e ensinando coisas novas… Eu teria que assimilar novos ensinamentos. Recomeçar a construção do estilo já estabilizado.
Bem, paralelo a isto sempre me ocorria a lembrança das duas faces de Alexander Luria, descritas por H. Gardner ¹… Por um lado… O grande cientista… Por outro lado… A. Luria tinha seus problemas de autoestima.
Eu sentia-me assim, depois fui descobrindo que isto era um processo natural, o meu jeito de digerir as coisas novas. Comecei a não ligar mais para a “depressão da autoestima”, entendi que se eu não me abatesse, se eu continuasse sendo “superior”, “o senhor- sabe- tudo”, estaria desprovido da humildade, abertura ou flexibilidade para ser novamente o aprendiz de mais um feiticeiro, ou de mais um truque.
E assim comecei a perceber a minha dinâmica de aprendizagem cada vez mais intensamente, e fui me preocupando menos com a cobrança da didática dos outros.
Percebi que só o autoconhecimento facilita o entendimento da posição do outro.
“A xícara vazia deve ficar abaixo do recipiente mais cheio”, sábias palavras ouvidas de um mestre hindu.
Ecoavam também as palavras, sempre com o tom jocoso e provocativo, de Jay Haley (1998, p. 15). ²
“Vivemos um momento empolgante na área de terapia, porque tudo está se modificando. Não há ortodoxia. Sem ortodoxia, não há conformistas nem rebeldes. Não há um caminho certo para fazer terapia, mas diversos caminhos. Você pode criar uma técnica terapêutica, ou ressuscitar uma antiga… Na verdade, se você der um nome à nova técnica, pode até iniciar uma nova escola e conduzir workshops… Uma vez que a terapia muda, muitos supervisores… tentam compreender o que está acontecendo. Os “supervisandos” ficam aturdidos ao se dar conta de que muitos de seus professores divergem entre si”.
Então tudo que eu sentia em relação aos módulos fazia parte de uma transformação tanto do contexto de aprendizagem das terapias (transformação externa) quanto da minha função de terapeuta (transformação interna).
Era o terapeuta profissional de Carl Whitaker ³ se manifestando, tal qual a dor de crescimento dos ossos de adolescentes.
O fato é que os anos foram passando e sempre que eu consultava o material arquivado dos tais módulos descobria mais um monte de conteúdo que estava lá, mas eu não percebia na época.
Quanto mais o tempo avança e o terapeuta profissional se debruça sobre estes módulos percebe que, como num romance relido, novas perspectivas surgem.
Quando estive com J. Zeig, durante um almoço em São Paulo, em 1993 (no intervalo do curso), pude ouvir de sua boca a declaração já lida em seu livro: “Sempre que revejo os casos de Erickson penso… Agora entendi tudo!… E toda vez que reestudo os casos descubro mais coisas que Erickson fez”.
Creio que isto se dá com todos aqueles que têm este espírito inquiridor e inquieto… Porque nos movemos no tempo amadurecendo e olhando o mundo de novas perspectivas afetivas e intelectuais. Percepções… Novos ângulos.
A frase do poeta Thomas Stearns Elliot resume bem esta atitude:
“Não cessaremos de explorar e o final de toda exploração será chegar aonde começamos. E conhecer o lugar pela primeira vez”.
Então, a todos os eternos aprendizes… Seguem as palavras que uso para minha resiliência e também para com os meus clientes… Mantenha o rumo timoneiro… E “respire…”
Sempre que sinto o sistema imunológico sinalizar algo como tempestades a caminho, sejam emocionais ou virais envio este alerta ao timoneiro.
Aliás, a palavra cibernética decorre do grego e tem esta acepção: condutor, piloto, timoneiro. Daí a palavra cyborg, ou seja, cybernetic organism.
O criador da cibernética, Norbert Wiener, foi um dos que ajudou na transição de uma visão linear para uma circular, pois demonstrou que um sistema para se manter “estável” precisa de certas retroações específicas.
O pensamento de Gregory Bateson e as propostas de Ludwig von Bertalanffy compartilham desta visão de mundo. *
Assim, como na espiral proposta por Jean Piaget, ocorre uma acomodação e uma assimilação, um fluxo contínuo de trocas que leva o sistema a um novo patamar, mais rico de experiências. Esta é a dinâmica do processo de aprendizagem.
Portanto…
Conservem a flexibilidade do espírito, porque “mente humana é como paraquedas, funciona melhor aberta”.
Fontes para consulta:
1 GARDNER, H. Mentes que criam. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
2 HALEY, J. Aprendendo e ensinando terapia. ARTMED, 1998.
3 Carl Whitaker estabelece uma diferença psicológica entre o terapeuta social e o profissional. O segundo assemelha-se ao xamã em sua busca permanente dos mistérios lutando contra seus próprios demônios, assim como com os demônios dos pacientes. Ver NEIL & KNISKERN. Da psique ao sistema. A evolução da terapia de Carl Whitaker. Artes Médicas. 1990, p.123. Cap. 3 Treinamento e crescimento do terapeuta.
* in ELKAÏM, Mony. (org.) Panorama das terapias familiares. Summus, 1998, p.20. L. von Bertalanffy descreveu as retroações negativas como processos que visavam reconduzir à norma esse ou aquele elemento de um sistema. Os terapeutas familiares… compararam por analogia as famílias a sistemas abertos em estado de equilíbrio e os sintomas, às retroações negativas: comportamentos sintomáticos dos pacientes, assim entendidos, puderam então ser descritos como “tentativas de proteção” de um conjunto familiar muito pouco flexível para suportar mudanças.
Theodore Crawford “Ted” Cassidy (July 31, 1932 – January 16, 1979) was an American actor. Noted for his tall stature at 6 feet 9 inches (2.06 m), he tended to play unusual characters in off beat or science-fiction series such as Star Trek and I Dream of Jeannie.[1] He is perhaps best known for the role of Lurch on The Addams Family
Sabedoria… Gratidão LV