Freud e a Psicanálise como sempre vi
Última paciente viva de Freud diz que ele a “salvou” com apenas uma consulta.
Freud fazendo prescrições terapêuticas, bem no estilo que mais tarde veremos em Milton Erickson e outros geniais terapeutas.
Cristina Gawlas Viena, 10 out (EFE).- Apenas uma consulta de 45 minutos com o “pai da psicanálise” em 1936 bastou para “salvar” a última paciente conhecida ainda viva de Sigmund Freud, a vienense Margarethe Lutz, de 89 anos.
Segundo revelou à Agência EFE, ela sente “uma grande gratidão” por Freud; embora ele não tenha submetido a paciente a um tratamento de psicanálise propriamente dito: mantiveram apenas uma conversa.
Essa única consulta com Freud deixou uma lembrança inesquecível na então jovem de 18 anos, que morava com o pai e a madrasta, já que a mãe dela tinha morrido no parto.
“Freud me fez compreender que a família e uma educação rigorosa não são as únicas (coisas) que decidem, e que há outras possibilidades”, afirmou a idosa.
Margarethe disse que o psiquiatra foi muito compreensivo com ela, na época uma jovem sem experiência que se sentia sozinha e que seguiu os conselhos do famoso doutor.
A octogenária afirma que buscava na ópera uma forma de fugir da realidade. Ela fingia interpretar grandes peças, como “Tristão e Isolda”, para superar o isolamento imposto pelo pai.
Um dia, os operários que trabalhavam para o pai, dono de uma fábrica, a viram vestida como uma cantora da ópera de Richard Wagner e cantando. Eles ficaram escandalizados, contaram o fato para o pai da jovem e a chamaram de “louca”.
O pai de Margarethe resolveu consultar o médico da família. O doutor disse que a jovem não sofria de nenhuma doença física, mas sim da “alma”.
O doutor marcou uma consulta com um “médico de muito boa fama, mas muito caro”, Freud, que já era famoso na época, mas de quem pai e filha nunca tinham ouvido falar. Margarethe não compreendeu então a importância histórica do encontro.
A paciente de Freud conta que o pai estava sempre ocupado e era muito rígido. Além disso, proibia o contato com jovens da mesma idade e a mantinha isolada, para evitar que conhecesse algum rapaz.
“Ninguém falava comigo”, afirma Margarethe.
Na época da entrevista, aos 89 anos e viúva há 17, ela continua fazendo esculturas e pintando.
O último trabalho dela é um retrato em relevo da ganhadora do prêmio Nobel da Paz Bertha Von Suttner, que ficará pendurado nas paredes da casa em Viena onde passou a maior parte da vida.
Além disso, ela costuma visitar as duas filhas do casamento de 35 anos. Uma vive na Califórnia (Estados Unidos) e a outra em Israel.
Da consulta com Freud há 71 anos, ela se lembra do famoso divã coberto com um tapete persa no consultório – apesar de não ter chegado a se deitar nele – e de prateleiras cheias de livros e objetos de escavações arqueológicas, que o psicanalista colecionava.
Freud começou a fazer perguntas da vida da jovem e o pai de Margarethe resolveu respondê-las pela filha.
O “pai da psicanálise” pediu que ele o deixasse a sós com a filha, algo que o industrial aceitou, embora contrariado.
Uma vez a sós com Freud, Margarethe disse que tirava notas baixas no colégio, gostava de interpretar peças dramáticas e que o pai a levava ao cinema, mas a obrigava a sair da sala quando eram exibidas cenas amorosas.
Margarethe disse que achou Freud simplesmente “um homem velho” e não voltou ao consultório na rua de Berggasse (Viena) até o ano passado, apesar do local já não ser mais o mesmo.
O semanário “Profil” – que descobriu a única paciente viva – lembrou que o “pai da psicanálise” estava com câncer na boca desde 1923, o que obrigou a se submeter a várias operações dolorosas.
Na época já tinha publicado suas principais obras, como “Três ensaios para uma teoria sexual”, “A interpretação dos sonhos” e “Totem e tabu”, entre outras.
Freud recomendou que da próxima vez que fosse ao cinema continuasse sentada quando um casal se beijasse na tela. Além disso, aconselhou Margareth a fazer esportes, ir a bailes e a ter contato com jovens da idade dela.
Como o industrial respeitava as opiniões de médicos, em particular a de Freud, aceitou os conselhos para a filha, que foram corretos. Margarethe chegou a se emancipar, conheceu o futuro marido e se casou aos 20 anos, em 1938.
Além disso, ela nunca precisou de psicanálise nem de psicoterapia. Margarethe também não leu os livros de Freud, um gênio que, perante a pressão dos nazistas e por ser judeu, foi obrigado a se exilar logo em seguida na Inglaterra, onde morreria dois anos depois.
Bem, aí está, Freud como sempre o vi, um grande terapeuta, flexível e longe dos mitos que alguns apregoam sobre a prática clínica da psicanálise.
Para outros detalhes e evidências, consulte-se:
Como Freud trabalhava – Relatos inéditos de pacientes
Nesta obra de Paul Roazen, seguem mais evidências sobre a diferença entre o que se diz que se faz, e o que se faz realmente dentro do consultório.
Há também do mesmo autor ” Freud e seus discípulos” (Editora: Cultrix,1978), que tem um excelente capítulo “Freud como terapeuta”.
Uma coisa é o Papa João Paulo II em frente ao Vaticano, falando como chefe supremo da Instituição, outra coisa é a pessoa Karol Józef Wojtyla. Embora dos papas pareça ser uma pessoa com bem menos incongruência (C. R. Rogers) entre o papel social (personagem) e a sua real condição humana.
Como Freud trabalhava – Relatos inéditos de pacientes (Esta obra foi lançada no Brasil em 20/07/1999, pela CIA das Letras) integra a série de livros escritos por Paul Roazen sobre a história de Sigmund Freud. Desta vez, o cientista político canadense organiza as entrevistas que fez nos anos 60 com 25 pessoas (todas já falecidas) que buscaram no disputado divã do criador da psicanálise um alívio para o sofrimento. Para este livro foram selecionadas dez entrevistas, tanto de gente que se tornou famosa por suas ligações com o movimento psicanalítico, como de personagens comuns, como Albert Hirst, um advogado austríaco emigrado para os Estados Unidos que atribuiu ao tratamento, mais de cinqüenta anos depois de seu término, o fato de ter alcançado sucesso profissional.
Das lembranças dessas pessoas surge o retrato de Freud como um psicanalista que se ocupa muito de seus pacientes, adota estratégias terapêuticas pouco ortodoxas, conversa sobre assuntos de todo dia durante as sessões e deixa entrever muito de suas simpatias e antipatias pessoais. Roazen, um crítico freqüentemente ácido, destaca as contradições trazidas à tona pelos entrevistados e revela como Freud poderia ser julgado um perigoso heterodoxo que nem sempre alcançou o sucesso desejado no tratamento daqueles que o procuraram.
From Wikepedia
Paul Roazen (August 14, 1936 Boston – November 3, 2005) was a political scientist who became a preeminent historian of psychoanalysis.
Roazen studied at Harvard University and in Chicago and Oxford. Later he returned to Harvard. The subject of his dissertation was Freud’s political thinking. In 1971 he changed to York University in Toronto, where he taught until his early retirement in 1995.
In 1965 Roazen began to interview surviving friends, relatives, colleagues and patients of Sigmund Freud. His first ‘big’ book “Freud and his followers“ was based on hundreds of hours of material. This was an original approach at the time. Kurt Eissler interviewed pioneers of psychoanalysis but, with the exception of an interview with Wilhelm Reich, they were not published.
Roazen was the first non-psychoanalyst whom Anna Freud allowed to access the archives of the British Psychoanalytical Institute. He was able to see the huge material Ernest Jones had used to write his biography of Freud.
Fotos do Museu Oscar Niemeyer – Curitiba – Paraná.