Do que se trata fazer psicoterapia… Um show de atuação!
E a importância da Rede de Modo Padrão para se entender o cérebro.
No dia 09 de novembro de 2011, às 23:54h recebi por e-mail o relato de um caso clínico e a atuação da terapeuta, minha amiga, que estava exultante (com toda a razão como poderão ler) e compartilhando seus sentimentos.
A troca de alguns e-mails entre amigos e profissionais, creio, deve ser publicada pois ao ser compartilhada permite análises por prismas científicos de vários ângulos, por exemplo, aproveito para abordar a importância da DMN (Default Mode Network), da psicoterapia estratégica e para fazer reflexões sobre ciência e religião e hipnose.
Segue o caso narrado pela competente e querida amiga Nelsinéa, Néia, a quem chamo, já faz tempo, carinhosa e respeitosamente, e com uma boa dose de humor… Condessa. (A permissão para a publicação é mais um gesto generoso. Obrigado.)
Desde ontem estou realizada pelos resultados de uma intervenção psicoterápica… Um menino de 3 anos teve uma desidratação braba e foi internado, com infecção intestinal. Fizeram todos os procedimentos e 3 dias depois de internado,
já não precisava mais de soro, estava sem febre, sem diarréia e vômitos, tudo normalizado. Porém não podiam tirar o soro, porque ele recusava alimentação oral, nem um golinho de suco. No quarto dia, verificaram perda de massa muscular. Foi uma confusão no hospital, o pediatra arrancando os cabelos. Aí houve uma interferência cósmica, quando uma amiga minha que é alergista e pediatra, entrou no caso por ser amiga do médico. Ela então sugeriu que me chamassem, porque havia uma história de anorexia da mãe. Consegui ir ao hospital, no final da tarde. Ele estava letárgico, reflexos fracos, e não respondia a nenhum contato. Tinha uns oito familiares… Todos falando, um horror… Mandei todo mundo sair do quarto.
Ficaram o médico do menino, a Ana Paula minha amiga e uma enfermeira, que depois mandei sair também.
Aí fiz um discursinho básico no ouvido dele: “São 7 horas, já está de noite, quando fizer 8 horas você vai acordar e pedir a mamãe meio copo de leite morno. Depois, vai pedir um pedaço de pão. Depois um pratinho de mingau. Depois um prato de sopa. E aí você vai ficar bem”.
A Condessa e suas lindas netas ( na foto)
Às 20 horas cravadas ele abriu os olhos de repente, sentou-se e gritou: Meu copo de leite – quentinho, e repetia gritando. Felizmente já tinham preparado a prataria toda, trouxeram e tomou tudo, deitou e dormiu, tudo meio automático. Quinze minutos depois, outra gritaria: “Meu pãozinho, cadê meu pãozinho?”. E assim foi até mais ou menos 9 e meia. Aí ele já estava plenamente acordado, e pediu comida: quero um monte de comida, um monte. Foi embora para casa as 3 da manhã, enquanto eu já estava na minha caminha, num sono repousante. Pela manhã, fui a casa dele e ao me ver, falou comigo como se eu fosse velha amiga – olha só que coisa: “Olha aí mamãe, ela disse que eu posso comer de tudo e continuar bonito – eu não quero ficar feio que nem você que não come coisa gostosa”. Houve um silêncio e ele ficou olhando prá mãe e perguntou: “Entendeu?”
Três anos, Celso ( Celso Lugão) e com um processamento que fluiu para a base do problema. Vamos ver como tudo isso evolui. Não houve uma interferência cósmica, uma vibração lá de fora, um sopradinho na minha mente que me inspirou, ou qualquer coisa “fenomenástica”?
Bj e um sono repousante (risos)
Segue a resposta/reflexão de Celso Lugão
Do que se trata fazer psicoterapia… um show de atuação!
Olá poderosa Condessa.
Que alegria enorme receber tal informação. Muito obrigado mesmo por compartilhar. Fico mais uma vez grato pela consideração.
Este é o poder que nós apreciamos, a capacidade de ajudar ao próximo… Você fez com que eu lembrasse de vários casos clínicos. Mas o principal deles contado por ti e endossado pelo Barão (esclarecendo ao leitor, o Barão é o meu amigo Luis Sérgio, marido de Nelsinéa), é do prof. Hans Ludwig Lippmann, de quem herdei duas pastas com informações acadêmicas, que me foram passadas pela família após a morte deste.
Embora tenhamos tido pouco convívio, talvez três anos ou mais… O pouco que tivemos foi significativo a ponto dele, segundo me disseram, desejar que eu ficasse com seus escritos pessoais… Ainda suspeito que isto foi articulado por vocês, velhos amigos, o que ainda assim me honra igualmente.
O caso que vocês contaram era de um jovem que sofrera um acidente e estava no leito hospitalar sem consciência há vários dias. O prof. Lippmann interveio com conversas hipnoidais ao pé do ouvido do jovem, dia após dia, marcando uma data para abrir os olhos e se alimentar. Enquanto isto fazia uma espécie de terapia de família aos ouvidos do jovem remexendo em pontos de sua estrutura e dinâmica familiar. As pessoas ao redor ficaram incrédulas quando na data prevista o jovem abriu os olhos e se alimentou.
Dragon by Diogo Lean
O fato é que este poder, que nos permite ajudar e desbloquear o que está estagnado é fruto de múltiplas interferências. Certamente, sem ter que recorrer a explicações místicas, houve um sopradinho em sua mente, uma mente preparada para agir em tais situações… ( Imagino jocosamente um filme do Monty Python em que Deuses assopram com fúria crescente sobre cérebros despreparados… O máximo que conseguiriam seria despentear as cabeças). (risos)
No fundo, para quem se beneficia o que importa é o efeito saudável, o pulsar da vida novamente.
Sem dúvida que poderosas energias se movimentam a todo tempo. Atualmente, a ciência busca o entendimento e avança a passos largos estudando tais energias cósmicas. Este é um assunto para os físicos e tanto no sentido macro quanto microscópico a interação das forças que regem o universo é fundamental.
Claro está que não se pode tentar ultrapassar certas barreiras, pois isto poria fim ao espírito investigativo, voltaríamos aos dogmas tão bem postos por Umberto Eco em “O nome da Rosa”… Até o riso seria perigoso. Por exemplo, pensar em um deus interferindo, ou vários (conforme as crenças de cada um), seria um retorno ao criacionismo ou, no mínimo, levantaria problemas de imensa complexidade num campo puramente antropomórfico e sem qualquer contribuição significativa ao conhecimento ao longo da história.
Questões do tipo, por que esta criança, ou várias, mereceram a atenção divina enquanto muitas outras não, nos levaria a inventar uma série de explicações sobre os motivos, desejos e planos celestiais. Admitindo a existência de deuses, ou de um deus, ou de um princípio regente (organizador/desorganizador), estaríamos tentando advinhar ou supor, pois não temos instrumentos para sondar as mentes de deuses ou desta psico (?) físico-lógica universal.
Aprende-se em psicoterapia que uma coisa é descrever o comportamento da outra pessoa, outra coisa é interpretar tal comportamento. Dizer que a pessoa ficou vermelha seria descrever; dizer que está com raiva ou vergonha seria interpretar a vermelhidão da pele. Portanto, tentar interpretar os deuses seria impossível pois nem mesmo temos o que descrever.
Embora seja fácil perceber isto em algumas situações em outras a armadilha auto-referencial interfere sutilmente e quase não se percebe, ou se leva tempo para perceber que estamos interpretando ao invés de descrever. Foi assim no caso da chamada energia íntrinseca do cérebro. (Falerei disto mais adiante). Portanto, se tenho instrumentos para sondar o que se passa no cérebro de alguém, como o EEG, a tomografia ou a ressonância magnética, estou um passo adiante do processo de advinhar.
Sondar exige instrumentos, supor exige um conhecimento de lógica, um entendimento de que existem padrões ocorrendo; por exemplo, se um astro é observado e se comporta de forma específica e regular, posso supor que haverá um eclipse quando tais condições voltarem a se configurar.
Se um cliente recebe um diagnóstico diferencial, isto significa que eu tinha instrumentos para sondar e chegar até àquele diagnóstico, mas o prognóstico eu só posso supor, pois se trata de inferir sobre padrões, ou seja, ocorrências observadas no passado de pessoas com aquele diagnóstico e sua evolução. O futuro, se todas as condições se mantiverem, deverá repetir o padrão que vem sendo observado nos casos já examinados no passado.
O próprio processo de advinhar é complexo, pois envolve aspectos como a intuição e um processamento em níveis cerebrais fora da consciência.
Ouçam um experimento interessante… Foi pedido a um grupo de pessoas que advinhasse aonde uma série de números apareceria numa tela dividida em quatro quadrantes. Após um tempo observando as pessoas conseguiram “advinhar”. Foram usados como sujeitos do experimento um grupo de pessoas leigas e um grupo de matemáticos.
O que nenhum dos sujeitos sabia é que os números apareciam na tela devido a um programa que continha um padrão lógico de projeção, isto é, havia um padrão de regularidade disparando os números. Então, na segunda parte do experimento, o programa disparador de números com regularidade foi substituído por um programa de disparo aleatório… Ninguém mais conseguiu “advinhar”… Na verdade, eles não estavam adivinhando… Processos a nível subconsciente estavam conseguindo fazer “pacing” (entrar no ritmo) com o programa.
Na segunda parte do experimento, uma vez que não havia mais lógica para ser captada, nem os leigos nem os matemáticos conseguiram fazer suas previsões. (No momento esqueci a fonte bibliográfica disto, mas se algum aluno de Psicologia Geral e Experimental I (PGE I) ler isto e achar em suas anotações… Agradeço se me mandar por e-mail).
Como o cérebro tem sido um simulador eficaz da realidade, devido a nossa sobrevivência até agora no planeta, ele opera com processos infinitamente complexos e desconhecidos. Mas, o que já se sabe nos traz uma certeza… Há muito por descobrir e aprender e precisamos usar o nosso conhecimento dos erros que cometemos no passado para mudar nossa atitude perante o conhecimento científico e a natureza.
Os próprios cientistas têm sido vítimas de seus preconceitos, visões distorcidas, seja por ciúmes, seja pela competição em prol da glória de algum prêmio ou descoberta bombástica. A espionagem industrial, as altas verbas das agências financiadoaras. Enfim, tudo que poderia facilitar as pesquisas também pode ser um empecilho quando as emoções e brios estão em jogo. Daí a importância de se pensar na sociologia e na psicologia dos cientistas.
Logo, os valores pessoais de cada época, cultura ou pessoa interferem na observação da realidade e aprendemos que precisamos estar alertas em relação a isto. Vigilância epistemológica, a diferença entre juízos de valor e juízos de fato, a escrita impessoal da redação científica, os experimentos com metodologia duplo-cega… Tudo isto são tentativas de se neutralizar a interferência dos nossos desejos, crenças e tendências devido as nossas limitações sensoriais e espaço-temporais.
Mendeleiev em sua mesa de trabalho (na foto)
Galileu Galilei fazia experimentos imaginários como no caso da célebre passagem da Torre de Pizza… Proponho caro leitor que façamos um “experimento psicológico”agora…
Simulemos o seguinte… Imagine que você tivesse nascido entre os vickings ou os gregos politeístas de outrora, mas a ciência fosse tão avançada como é agora. Os princípios morais e éticos, como por exemplo respeitar os credos pessoais de todas as pessoas seriam os mesmos de agora… Pelo menos em boa parte do mundo se procura dar liberdade à prática religiosa. O tema do poder, do pagamento ou sonegação de impostos e da exploração do próximo sempre acompanhou as egrégoras (termo lembrado por meu bom e inteligente amigo Marcelo Osnoff).
Então, a questão é a seguinte as ocorrências do dia a dia e do universo seriam regidas pelos deuses, Wotan e Zeus, com todo o panteão de deuses e subdeuses. Estes seriam os responsáveis em última análise por todos os fenômenos e eventos, das doenças e curas até os eclipses e as supernovas… Lembre-se, caro leitor, houve um tempo em que não havia o monoteísmo, logo as explicações religiosas repousavam em outras ideologias ou “forças cósmicas”.
Sempre se pode usar o argumento… “Bem, mas agora, no monoteísmo, há um deus verdadeiro!; este é o deus verdadeiro” ou ainda… “Deus sempre existiu mas foi preciso que o homem atingisse certos estágios na sua “evolução espiritual” para percebe-lo e sair dos cultos selvagens e pagãos”. Bem, isto confere as crenças atuais um argumento (sem provas!) de que estas são mais exatas do que as dos povos do passado ou de culturas que ainda hoje são politeístas ou admitem a existência de um panteão de seres que têm poder para influenciar na realidade do dia a dia das pessoas.
Bom, se isto é verdade ou não, está fora da possibilidade da ciência sondar , mas as suposições mostram algumas certezas incômodas … Um grupo de pessoas se recupera de moléstias e outro grupo não. Ambos os grupos têm familiares religiosos orando e pedindo a interferência divina, mono ou politeísta, ao longo das épocas. Por que alguns se recuperam e outros morrem? Os “especialistas”, religiosos que têm cargos hierarquicamente elevados nas egrégoras costumam dar todo tipo de explicação. Estas envolvem uma complexidade tal e são bastante conhecidas que acho que não vale a pena insistir neste argumento. São coisas do tipo… “Não rezaram direito, não tinham fé ou tinham dívidas a acertar de outras vidas” (a tese da palingênese ou reencarnação). E por aí seguem as “explicações”, mas se você não tem como sondar a mente dos deuses, pois isto seria uma tremenda incongruência hierárquica, ou produziria um efeito de aura, isto é, um erro de interpretação causado pela contaminação das idéias de um mortal, então, ou se admite que alguns humanos têm contato direto com os deuses e são diferentes e possuem um lugar hierárquico mais elevado nesta Torre de Babel, ou se começa a pensar que isto é muita ingenuidade e… Da mesma forma que o politeísmo de outrora é visto por pessoas esclarecidas de hoje como simples mitos, poderíamos supor que as crenças de agora serão percebidas como mitos, pelas pessoas esclarecidas do futuro.
Nesta hora, sempre alguém lembra dois argumentos… E se você ou seu filho, ou alguém que você ama adoecer de algo ruim, além do alcance da ciência?
O outro argumento vem de pessoas que superaram o antropomorfismo em relação aos deuses ou a deus, algo do tipo … “Acredito num princípio universal… Não em um sujeito com barba (se pode notar que em geral há uma definição implícita de gênero masculino)…
Sobre o primeiro argumento lembro sempre que quando era garoto havia tal tipo de ameaça, não encontro outra palavra melhor… “Quando você precisar irá chamar por deus”.
Bem, certa vez passei mal, realmente mal, e lembrei do que haviam dito e do meu argumento (Dane-se deus ou os deuses, uma conversão mediante o sofrimento é como confessar diante de tortura, não tem o menor valor). Na verdade, a maneira de R. Feynman fui criado entre várias perspectivas, mas o peso dos argumentos lógicos de meu pai, sempre foram muito fortes.
Meu pai era um leitor voraz. Formado em odontologia tinha um conhecimento muito amplo sobre muitas coisas e muitos, muitos livros. Ele havia estudado para ser religioso também, foi coroinha, mas ao questionar o padre sobre vários “problemas em aberto” do catolicismo foi repreendido e resolveu partir para o espiritismo kardecista; achou mais coerência neste credo e quando faleceu, com 79 anos de idade, ainda era muito ativo em relação ao dia a dia e as suas leituras mas estava tranquilo em relação ao credo espírita. Não sei se ele seguiria para o ateísmo se tivesse tido mais tempo, mas isto de fato não importa.
Na verdade, se eu tivesse me convertido ao catolicismo quando tive (ou tiver) algum problema, isto também não teria a menor importância para o que se diz aqui. O fato de uma pessoa crente de algo se converter a outra crença não prova coisa alguma sobre nada, apenas mostra que as pessoas migram conforme interesse próprio, digno ou não, para credos diferentes. Ser ateu também pode ser considerado uma crença, um modelo ou “modus operandi existencial”… E talvez fique claro que muitas contribuições para a ciência vieram de religiosos e de ateus, donde, se você tiver uma metodologia, técnicas e perspicácia e conseguir não ficar paralisado por dogmas ou idéias preconceituosas você produzirá conhecimento. Charles Darwin certamente foi um dos marcos neste assunto de limites posto que sua teorização colidia frontalmente com os dogmas do catolicismo.
Deus ou deuses, ou deusas, é um assunto totalmente para as crenças das pessoas, e o ateu sempre é ameaçado com avisos de que irá pagar um preço por esta blafêmia, ou irá se converter diante de alguma “tortura”.
Cá entre nós, deuses vingativos, ameçadores, lembram os velhos mitos, que naqueles tempos não eram mitos mas as verdades de cada pessoa.
Passei a admirar ainda mais o meu nobre amigo Magno Matheus, após o mesmo ter tido um câncer no estômago e ter passado por todo o penoso processo sem deixar seu ateísmo de lado. Extremamente lúcido quanto as implicações de tal tipo de câncer e suas consequências, que poderiam ter sido fatais, mateve-se confiante nos procedimentos da medicina. E saiu desta experiência sem ter recorrido a uma conversão religiosa. Adora um bom vinho para acompanhar um peixe e é assim que celebramos as nossas vidas quando nos encontramos… Já o peixe não tem o que comemorar, salvo os que ainda estão no mar… Mas, assim é a vida neste planeta, sejam vegetais, sejam animais, alguém morre para servir de pasto ao próximo…
Penso que o segundo argumento, sobre um princípio regente (inteligente?) do universo é uma fase ainda pré-científica de se pensar sobre o universo, e é algo um tanto indefinido, ou seja, os que postulam tal idéia não sabem dizer ao certo do que se trata, e alegam… “É algo além de nossa compreensão…”. Portanto não há muito o que se dizer aqui também, o argumento se parece com algo sobre os limites da ciência, só que postula uma certa inteligência e desígneo operando por programas, metodologias e técnicas hipercomplexas. Algo do tipo, Jornada nas Estrêlas. O seriado levantava hipóteses fantásticas em alguns capítulos.
O fato é que se tivéssemos ficado rezando e esperando que as vacinas aparecessem tenho certeza que muitas pessoas ainda seriam vítimas das mais variadas mazelas. Entretanto, quando alguns homens conseguiram ultrapassar a barreira do dualismo e perceber que os bons dotes da religiosidade (ser bom e justo, evitar o preconceito para com o próximo e seu credo) não se antagonizam com os bons motivos da ciência, então a humanidade caminhou para formas de medicina e outras terapias mais eficazes e deixou claro que formas de autoritarismo ideológico, sempre trazem poderosas e nefastas conseqüências.
Você, minha amiga de longa data, com toda a bagagem veteraníssima em teu inconsciente, com formação e informação dignas do mais alto grau de respeito e sabedoria é capaz destas “bruxarias”, (risos). Note, que se tivesses feito isto com o menino por volta de 1600 terias sido acusada e convidada a acompanhar Giordano Bruno.
O problema, minha cara Duquesa, Baronesa e Condessa e, agora e sempre, Guia Espiritual (risos), como eu, ateu, guia de muitas vidas, e no teu caso, de muitas crianças (Vários casos espetaculares que já me contastes)… Reitero, o problema é que somos mensageiros de uma longa tradição de cuidadores, cada um com seu estilo particular, mas todos nós dando o seu melhor em prol do próximo.
E o detalhe é este… o próximo é desconhecido mas, como por magia, (sabemos que o nome correto não é magia mas sim à pacing/raport), se torna íntimo em segundos.
Somos feito do mesmo material, das mesmas vibrações, e quando alguns não vibram, ficam travados, somos chamados, pela falta de vibração. Percebemos isto a distância e se temos oportunidade, imediatamente agimos.
Já sabemos o que fazer e cada um de nós tem suas explicações, que, repito, quando se ultrapassa o dualismo para uma perspectiva processual fica claro e simples de vivenciar/entender… Uso os dois termos por referência aos dois cérebros (hemisférios).
O hemisfério esquerdo entende, o hemisfério direito vivencia.
Enfim, como diziam os alquimistas… Totum hominem requiret opus… A obra requer o homem por inteiro.
Adorei saber mais esta, também vibro de alegria e aproveito p/ compartilhar este texto, sem prévia autorização vossa, (risos) com os neófitos, amigos e aprendizes de bruxaria hipnoidais… E por que não espirituais, se assim questionas e defines?
Certa vez falei com o prof. Eliezer Schneider que a religiosidade é inerente ao homem posto sua condição existencial neste universo, que agora além de enorme, tem perspectivas paralelas e de múltiplas dimensões… Branas, buracos de minhoca, etc.
Religiosidade como um sinônimo para um estado baseado na etimologia da palavra religião, ou seja, o religare, a perspectiva de dar algum sentido a esta experiência temporária entre o nascimento e a morte, religar este espaço non-sense chamado vida consciente.
Mas, voltando a análise do teu caso…
O teu caso me lembrou não só o do Lippmann, mas também um caso clínico descrito em Cloé Madanes – A família além do espelho- editorial Psy (1997).
Li esta obra em 2004, é excelente mas a editoração deixa a desejar (não consegui contato com José Carlos V. Gomes, responsável pela ed. Psy p/ saber o que houve), chegando a dificultar a compreensão em alguns trechos… Chega a dar raiva!
A ação das metáforas numa família é impressionante… Quando um problema comportamental é a metáfora de um outro problema comportamental… ou quando uma criança “planeja” ser útil aos seus pais por vias indiretas, há uma incongruência na organização hierárquica da família…. Ou seja, a criança assume a posição de liderança na família (op. Cit., p.21)
O caso exposto na obra de C. Madanes
O pediatra encaminhou mãe e filha (10 aninhos) p/ a terapia familiar… Faziam 5 anos que a menina entrava e saía do hospital por causa de extrema fraqueza e coma diabético…. A mãe também era diabética e cuidava pouco de si própria… Resultado, quando a menina era internada a mãe se cuidava. O pai era ausente, divorciado, etc.
O problema da criança é uma metáfora da incapacidade da mãe…
Neste caso foi feita uma prescrição terapêutica… Ambas fingiriam ser enfermeiras e cuidariam uma da outra… Elas gostaram da idéia pelos motivos narrados na obra. ( O leitor interessado deve consultar a obra citada. Além deste caso há vários outros que ilustram a maneira estratégica sistêmica de resolver problemas psicológicos).
E foi assim que o caso se resolveu…
No teu caso vc usou comandos hipnoidais e conseguiu, de forma brilhante e eficaz romper o padrão metafórico da criança sobre si mesma…
A metáfora pessoal induz um estado de auto-hipnose que é paralisante, tenho estudado tal mecanismo e percebido que isto é muito mais comum do que se supõe.
Um outro dado que gostaria de acrescentar é a hipótese do funcionamento dos cérebros, tanto do cliente quanto do terapeuta, ou seja, de todos os cérebros (risos).
As pesquisas das neurociências apontam para um sistema chamado DMN (sigla em inglês de Default Mode Network), ou seja, “Rede do Modo Padrão”, explicando…
Eu abri o armário para pegar um pote de mel e me virei para abrir o mesmo com as duas mãos.
Neste momento eu estava de frente para a pia da cozinha e o armário, ainda aberto estava à minha direita… Então, ouvi um ruído e minha mão direita voou e pegou no ar um pote que despencara do armário aberto. Certamente estava desequilibrado e despencou no momento em que me virei… Mas, como foi possível tal ação do meu cérebro? Ele estava ocupado em abrir o mel e, no momento seguinte, como se movido por um outro programa, meu braço e minha mão, (e todo meu corpo!) estavam envolvidos em tentar evitar a queda de algo do armário. (Poderia se dizer que meu anjo da guarda me ajudou – risos- ou que os anjos da guarda funcionam através do sistema DMN! Talvez eles sejam o sistema DMN!).
Notem, o objeto que caiu (um pote de alho amassado), até poderia ter se espatifado sobre a pia, espalhando seu precioso conteúdo, além de excelente para a saúde o alho combate até vampiros!), mas o ponto crucial é o incrível funcionamento do cérebro.
Este tipo de fato e outros têm chamado a atenção dos pesquisadores… O que ocorre com o cérebro quando ele está focalizado num aspecto da realidade mas reage a mudanças como a descrita? E o que ocorre quando você está quase dormindo e um mosquito pousa em seu braço e você o tenta acertar num gesto que flui como um relâmpago?
O que estava acontecendo no cérebro das pessoas no experimento de tentar “advinhar” aonde os números apareciariam? Eles estavam tentando intuir, prever, advinhar , e sem saber como, seus cérebros, num nível fora da consciência coseguiram captar padrões, talvez o cérebro do Prof. Lippmann, assim como o teu, minha nobre Condessa, estivessem processando dados numa outra “frequência”, num outro modo de funcionamento que na verdade ocorre o tempo todo! Mas em determinadas situações nos chamam a atenção, ou seja, geram resultados a nível da consciência, embora esta não tenha como explicar as infinitas manobras que ocorrem no pano de fundo de nossas atividades focalizadas e mais ou menos conscientes.
Desta forma sempre haverá espaço para explicações mágicas pois levará muito tempo ainda para se chegar a uma “teoria do tudo” (se conseguirmos chegar até lá)… E como nós somos seres temporalmente finitos e preocupados com a morte, portanto emocionalmente comprometidos com tal angústia que gera um reino de incertezas, estamos fadados a um “pensamento de fundo mágico”. Foi o que eu tentei explicar ao professor Eliezer Schneider, quando eu disse que a religiosidade é intrínseca ao ser humano.
Porém podemos nos vacinar, por assim dizer, contra esta interferência em nosso raciocínio sobre a estrutura e a dinâmica da realidade. Se observarmos bem este foi um exercício que Charles Darwin teve que praticar diariamente… Colocar em suspenso as crenças religiosas sobre o criacionismo e, através de evidências e pesquisas conseguiu provar e comprovar uma série de fatos encadeados e lógicos sobre a formação da vida em nosso planeta.
“Os criacionistas rejeitam a teoria da evolução… Como podem essas pessoas refutar tais dados tão bem estabelecidos e ainda, num mesmo momento ligar seus ventiladores quando estão com calor ou tomar antibióticos quando estão doentes”. Matthew Alper (filósofo)
Pois bem, e o cérebro?
Os neurocientistas perceberam que o cérebro não para, isto é, mesmo num estado de repouso ele está pronto a agir, exatamente como naqueles filmes de artes marciais em que o mestre está meditando e segura uma flecha no momento seguinte, que lhe fora endereçada por um inimigo. A esta atividade do cérebro num modo tipo “stand by”, se deu o nome de “Rede do Modo Padrão”… Um sistema cerebral até então não reconhecido!
Frase de Ken Wilber que escrevi em uma camisa (na foto)
Conforme se sabe esta idéia do cérebro em constante atividade foi colocada pelo Dr. Hans Berger, criador do EEG, na década de vinte, mas suas idéias foram ignoradas até que começaram a ser retomadas e começou a se falar em atividade intrínseca do cérebro, ou seja, a atividade constante que fica ao fundo (background activity).
Com as invenções da tomografia (década de 70) e da ressonância magnética funcional (década de 90) se começou a perceber que muitas pesquisas precisariam ser repensadas diante desta idéia, pois inicialmente parecia que as áreas cerebrais permaneciam tranquilas até que fossem requisitadas a desempenhar alguma tarefa específica.
Inicialmente, houve com relação a estas pesquisas aquilo que se pode chamar de contaminação de crenças ou idéias pré-concebidas, era como se alguém estivesse observando algumas pessoas em movimento e outras paradas e dissesse que as pessoas paradas não exibiam nenhum comportamento… Sem perceber que o fato de estarem paradas já era um comportamento. Ou seja, havia um problema de contaminação conceitual incidindo na observação.
No caso das observações sobre o funcionamento do cérebro houve algo parecido. As observações feitas pelo uso de tomografia e ressonância mostravam as áreas do cérebro pesquisadas em atividade, e se deduzia (erroneamente) que as demais não requisitadas para aquela tarefa estavam em repouso e inativas. Isto foi análogo ao pensamento sobre os neurônios e as células glias. Se pensou até 1994 que as células glias serviam apenas de base estrutural para a arquitetura das estruturas neuronais. Nesta mesma linha de raciocínios errados, induzidos por crenças e pressupostos simplistas, sem evidências e portanto precipitados, já se pensou que além do mar haveria um precipício sem fim, ou que o fundo do mar era formado por uma crosta de gelo, ou que a Terra era o centro do universo.
Por isto aprecio os aforismas abaixo…
“Não sou louco pela realidade, mas ainda é o único lugar para se conseguir uma refeição decente.” Groucho Marx (Humorista)
“Mente humana é como pára-quedas… funciona melhor aberta” Charlie Chan (personagem de Conan Doyle).
Na foto, a excelente obra de Paul Strathern… O sonho de Mendeleiev (Ed. Zahar, 2002). No campo das descobertas científicas, sabe-se que muitos pesquisadores trabalharam arduamente sobre um problema sem conseguir ultrapassá-lo até que algo inusitado ocorre… Possivelmente é a DMN que continuando a trabalhar durante um sonho ou devaneio, fornece uma idéia que permite ao pesquisador o insight para resolver o problema. O sonho de Dmitri Mendeleiev, assim como o sonho de Kekulé (Friedrich August Kekulé von Stradonitz), acrescentaram novos conhecimentos que transformariam o campo cietífico drasticamente.
Felizmente, como sempre acontece na tradição da história da ciência alguns pesquisadores reacenderam a antiga idéia do inventor do EEG. Eles (vários grupos de pesquisa, na verdade) resolveram pesquisar o que acontecia quando o cérebro estava em repouso ou com a mente divagando…
As imagens do cérebro mostraram que áreas em muitas regiões do cérebro se mantinham ativas e bem ocupadas.
Então foi gerada mais uma metáfora oriunda das neurociências para tentar explicar o que estava acontecendo… No artigo da Scientifican American Brasil (Abril, 2010, p.22-27), intitulado… A energia escura do cérebro, se lê o seguinte (op. Cit.,p.25):
Com a devida licença dos colegas astrônomos, nosso grupo deu a essa atividade intrínseca o nome de energia escura do cérebro – referência à energia não visível, mas que representa a maior parte da massa do Universo. (O grupo em questão é o do autor do artigo – Marcus E. Raichle, da Washington University).
Bem,…
Só espero que após a hipnose quântica eu não veja surgir após este artigo a incrível hipnose da energia escura do cérebro, o que na verdade seria mais sensato no atual momento de pesquisa. Sim, porque podemos inferir de forma bastante óbvia que todos os processos cerebrais subjacentes à atividade consciente estão envolvidos nos mecanismos pelos quais a hipnose atua, bem como a intuição e quiçá possíveis fenômenos paranormais, se levarmos em conta os estudos do Grupo PEAR… The Princeton Engineering Anomalies Research (PEAR) program.
Vide link… http://www.princeton.edu/~pear/
Vejamos, no mesmo artigo da Scientific American, outras curiosidades…
De toda a informação ilimitada visual chega à retina 10 bilhões de bits por segundo. O nervo ótico ligado a retina tem “apenas” (as aspas são minhas – risos) um milhão de conexões de saída, donde somente 6 milhões de bits por segundo saem da retina,e apenas 10 mil bits por segundo chegam ao córtex visual. (Nem me pergunte, minha cara Condessa, como se sabe disto, mas certamente é por inferência estatística de amostras. Assim como se sabe o número aproximado de neurônios, pois segundo Suzana Herculano-Houzel se levaria 3200 anos contando um por segundo!, caso isto fosse possível)
O fato é que uma corrente tão tênue de dados não produziria percepção se essa corrente fosse tudo que o cérebro levasse em conta, prossegue o artigo (p.25)… A descoberta sugeriu que o cérebro faz constantes predições sobre o ambiente externo, em antecipação a insignificantes impulsos sensoriais que chegam a ele do mundo exterior.
O artigo cita outra metáfora, como se o cérebro fosse uma orquestra sinfônica em que o sistema DMN e os potenciais corticais lentos fossem os regentes organizadores da sinfonia executada, garantindo que a cacofonia de sinais em competição de um sistema não interfira com os sinais de outros sistemas. Um dos grandes desafios das neurociências é entender como os sinais de diferentes frequências interagem.
As altas e baixas frequências, as oscilações dos sistemas DMN, já propiciou aos cientistas entender melhor a natureza da atenção, componente essencial da atividade consciente. Em 2008, uma equipe multinacional, relatou que pela observação da DMN, conseguiu antecipar em 30 segundos num scanner um erro que um paciente ía cometer em um teste computadorizado… Logo, temos evidência que o sistema nervoso central está sempre num estado de considerável atividade, não apenas no estado de vigília… Essa atividade aparece mesmo sob anestesia geral…
Para finalizar, o artigo fala das conexões entre a DMN e as doenças, como Alzheimer, depressão e esquizofrenia… Nossas interações conscientes são apenas uma pequena parte da atividade do cérebro. (Op. Cit. p. 27).
Logo, o que houve entre a DMN do prof. Lippmann e a do cliente, o que houve entre aquela criança e aquela mãe? E qual foi a natureza de vossa intervenção Condessa?
Bem, eu penso o seguinte, os deuses devem ter mais o que fazer do que ficar olhando para os meus problemas pessoais e pensando se dão uma forcinha ou não, mas, sendo sincero… Mesmo se eles existissem (todos eles, de Rá até Odim ou Júpiter, Alá ou o Deus Único) eu não iria ficar ocupando-os com meus problemas pessoais, fossem de saúde ou não. Eu respeitaria a privacidade destes seres tão ocupados em manter o universo pulsando. Creio que não seria apropriado ficar perturbando-os diante de tantas mazelas que existem por aí.
Condessa… Adorei a tua performance, mil vezes Viva!!! Viva la vida! E a música que me vem é do Sul, de Kleiton e Kledir…
Hoje o Universo irá tremer mais ainda de felicidade
Parabéns por mais este show e por compartilhar!
No final segue texto sobre o grande professor H.L. Lippmann… note o tema de sua preocupação… menores abandonados… o espírito deste ser, ou se preferir chamar lembrança ou influência sempre irá pairar em nossos espíritos ou inconscientes ou campos morfogenéticos, ou na energia escura do cérebro….
Kleiton e Kledir
Viva
Viva a alegria
E viva o prazer
De estar gostando de viver
Viva o oxigênio
Que invade o nariz
E faz a gente ser feliz
Viva a natureza
Deusa da beleza
Mãe das coisas que são boas
Viva a harmonia
O beijo na boca
E quem sabe fazer amor
Viva a alegria
E viva o prazer
De estar gostando de viver
Viva a maravilha
Que somos eu e tu
E viva o rabo do tatu
http://www.youtube.com/watch?v=4fFNesWEY4U
Ouçam a música é d+
Relembro alguns de meus aforismos preferidos, que serão publicados em meu site, e que nos remetem a reflexões que nos ajudam a entender o modus operandi processual ao invés do dualista.
“Se você construiu castelos no ar, seu trabalho não precisa ser desperdiçado; é lá mesmo que eles deveriam estar. Agora ponha os alicerces embaixo deles.”
Henry David Thoreau
“O riso é como o pára-brisa, serve p/ você ir rodando enquanto a chuva cai”. Tom Sttopard
“Mais valem dois pássaros voando do que um na mão.”
Luganus Ecologicus (Apreciador de seres livres)
“Aquilo que observamos não é a natureza em si mesma, mas a natureza exposta ao nosso método de questionamento”.
Werner Heisenberg (Físico)
Abaixo trecho de trabalho da colega, prof.ª Deise Mancebo
Extraído de http://www.cliopsyche.uerj.br/livros/clio1/formacaoempsicologia.htm
Por fim, mas não menos importante, cabe citar que o idealizador do curso de Psicologia da PUC-RJ, professor Hanns Ludwig Lippmann, chega para dar aulas na PUC/RJ no ano de 1949, nos dois cursos de Serviço Social. Era um homem religioso, mas profundamente influenciado pela ciência. Na época em que ainda vivia em São Paulo, Lippmann completara o curso de Serviço Social da PUC/SP. Defendera uma tese de final de curso, em 1948, sobre o tema “Menores Abandonados”, onde dissertara acerca do comportamento dos mesmos, sua principal área de interesse. A esta formação devem-se acrescer os estudos de Teologia, desenvolvidos em um mosteiro beneditino.
No entanto, Hanns Ludwig Lippmann separava claramente essas duas realidades e achava que cada uma tinha uma função social bem determinada.
(Grifo de Luganus Ramadan Svrerola, e digo mais, se este ser estivesse entre nós, assim como meu querido mestre E. Cannabrava, poderíamos ter longas horas agradabilíssimas de conversas, principalmente se vocês, Louis Sérgius e Néias Dunleys estivessem presentes.
Ainda não terminei de ler, mas Budismo sem crenças é algo que acrescenta pontos ótimos para toda esta reflexão, acrescento, em meu estilo mosaico e quiçá, autístico (gritos efusivos de alegria) uma sinopse do mesmo
Trata-se de um livro surpreendente e polêmico por apresentar uma visão muito original dos ensinamentos de Buda (Sidarta Gautama, c. 563-483 a.C), despindo-os de caráter religioso. Para Batchelor, o chamado despertar ou iluminação do Buda não se tratou de uma experiência mística, de um momento de revelação transcendental da Verdade. Ao contrário, ao encontrar o ?caminho do meio? que conduz à supressão do desejo e do sofrimento humanos, o Buda propôs de fato uma prática, um método de ação (ação que, segundo o autor, é tão importante quanto a contemplação meditativa).
É o Budismo como método e não como religião que Batchelor descreve e propõe em seu livro inovador, numa linguagem simples, sem palavras em sânscrito ou nenhum jargão orientalista. O leitor que tem em mente é o homem contemporâneo, dominado pelo ceticismo ou pela fragilidade da fé. Por isso, além de enfatizar o caráter prático do método budista, o autor resgata a noção de agnosticismo, tal qual foi proposta pelo filósofo Thomas Huxley, em 1869. É precisamente nesse sentido agnóstico que esta obra se configura como um guia contemporâneo para o despertar.
Budismo sem crenças – a Consciência do Despertar – Stephen Batchelor
Retornando ao texto da colega Deise…
No entanto, Hanns Ludwig Lippmann separava claramente essas duas realidades e achava que cada uma tinha uma função social bem determinada.
A ciência cuidaria do progresso da humanidade e a religião católica cuidaria da moral humana.
Sua vinda para o Rio de Janeiro, em 1949, deu-se através de um convite do Padre Paulo Bannwarth, então reitor da PUC/RJ, para que compusesse o corpo docente do Serviço Social. Lippmann demonstrava um grande interesse pela Psicologia e já chegara à PUC/RJ com o intuito de montar um curso nesta área, de modo que, desde a sua entrada na instituição, selecionava, para si, as disciplinas deste campo.
Tornou-se Chefe da Divisão de Serviço Social da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, anexa à Santa Casa da Misericórdia, em 1951, local onde primeiramente o curso de Psicologia da PUC/RJ alojou-se. No mesmo ano, foi contratado como psicólogo pela Casa de Repouso Alto da Boa Vista, para atuar no Centro de Estudos Psicossomáticos. A partir do ano de 1952, passa a trabalhar como professor do IPUB (Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil). Também era psicologista do Ministério da Educação e Saúde, membro do Conselho Consultivo das Pesquisas Sociais da Comissão Nacional de Bem-Estar Social e membro da Subcomissão de Terras e Colonização da Comissão Nacional de Política Agrária, em 1954. Por esta listagem de cargos e funções desempenhadas, é possível perceber a ativa participação que tinha na sociedade de sua época[xvi][16].Lippmann ministrara intensamente as disciplinas psicológicas enquanto professor dos dois cursos de Serviço Social existentes na universidade. Organizara, ainda, atividades de extensão universitária em Psicologia, que se constituíram em prévias do que viria a ser desenvolvido, posteriormente, no curso de Psicologia da PUC-RJ. Por fim, iniciou gestões para a efetivação do seu antigo desejo.
É preciso destacar, no entanto, que ao longo da experiência de Lippmann no Serviço Social, a Pontifícia Universidade Católica havia mudado. Apesar de todas as articulações ideológicas que marcaram sua criação em torno dos ideais católicos, a PUC/RJ distanciou-se dos objetivos que lhe deram origem a partir de finais dos anos 40. O crescimento econômico desenvolvimentista projetado para o país, ao final da ditadura Vargas (1945), exigia um certo pragmatismo na educação. A nação necessitava de técnicos especializados, a fim de suprir o ritmo industrializante nacional, bancado pelo Estado e pelas recém-chegadas multinacionais, que demandavam mão-de-obra. A PUC/RJ também foi atravessada por este “espírito de época”. A demanda para cursos na área tecnológica aumentava na sociedade carioca e pressões são feitas para a criação de um curso de Engenharia na PUC/RJ. Atendendo aos apelos e diante da perspectiva de financiamentos futuros – o que, de fato, veio a acontecer -, os dirigentes da universidade criam a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1948. A criação desta escola é um marco na mudança dos rumos institucionais da Universidade Católica e uma das conseqüências dessas transformações foi a laicização de seus cursos, erigindo-se um fosso entre o perfil científico-acadêmico da instituição e o religioso. No nosso caso, a “Psicologia Catequizada” perde seu papel hegemônico e vai deixando de existir, de modo que o curso de Psicologia propriamente dito nasce sob a égide da ciência psicológica “neutra” e praticamente livre das ingerências religiosas. Este aspecto é tão marcante que os professores da “Psicologia Catequizada”, da Faculdade de Filosofia, sequer aparecem na lista do corpo docente do curso de Psicologia. Além disto, o movimento da Psicologia no Rio de Janeiro do final dos anos 40 e início dos anos 50 não guardava qualquer semelhança com uma Psicologia religiosamente orientada, praticada nas primeiras disciplinas da PUC-RJ. Nesta época, os então chamados psicotécnicos eram os atores dessa Psicologia, de cunho pragmático e reprodutora da Psicologia cientificista hegemônica nos Estados Unidos e Europa. Tratava-se de uma Psicologia calcada em testes objetivos, que penetrava principalmente nas indústrias e nas escolas. Os psicotécnicos eram chamados para o trabalho de seleção profissional entre os candidatos a um determinado posto profissional e requisitados a dar orientação profissional aos estudantes, prática que se constituía numa seleção prévia do jovem ao mercado de trabalho. Conforme apresentado em parte anterior deste trabalho, o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), sob a direção de Emílio Mira y López, era a instituição que até então, por excelência, preparava os psicotécnicos no Rio de Janeiro, através de cursos breves, com o objetivo básico de contribuir para o ajustamento entre o trabalhador e o trabalho, mediante o estudo científico de suas aptidões e vocações, através da criação e/ou aplicação de testes psicológicos.
Para levar seu projeto adiante, Lippmann deveria contemplar esta demanda; precisava canalizar para a PUC-RJ o que o ISOP já fazia de forma esparsa e descontínua, com seus cursos breves. No entanto, Lippmann pretendia ir mais longe e, visando ao alcance de seus objetivos, pede o apoio de uma pessoa de grande envergadura no meio acadêmico daquela época: Nilton Campos, professor catedrático da Universidade do Brasil e diretor do Instituto de Psicologia da mesma universidade. Conforme já exposto, o professor Campos era defensor de uma Psicologia teórica fortemente embasada nos conhecimentos filosóficos e um ferrenho crítico dos cursos tecnicistas promovidos por Mira y López, no ISOP. Nilton Campos desejava conter o vertiginoso avanço desta última instituição e, com este intuito, resolve dar todo o seu apoio ao projeto de Lippmann, quanto à criação de um curso verdadeiramente universitário de Psicologia na PUC-RJ. O Instituto de Psicologia Aplicada da PUC (IPA) surge, portanto, dentre outros motivos, como uma alternativa ao ISOP, para de certo modo “esvaziar” o poder crescente da formação espaçada e tecnicista oferecida por esta última instituição (LANGENBACH, 1982b). O professor Hanns Ludwig Lippmann, com o apoio acadêmico da Pontifícia Universidade Católica e com a cessão do espaço físico da Santa Casa da Misericórdia, localizada à Rua Santa Luzia, monta, no mês de março de 1953, o primeiro curso universitário de Psicologia do Brasil[xvii][17].O IPA tem início com uma preocupação central: apresentar densidade teórica, suprindo as deficiências existentes no ISOP. Organizado originalmente em três anos e meio, deveria apresentar uma formação mais sólida e orgânica do que uma série de pequenos cursos de curta duração.
No entanto, seu organizador também precisava ir ao encontro das aspirações dos psicotécnicos, qual seja, deveria proporcionar-lhes uma profissionalização e, deste modo, a Psicologia Aplicada não podia ser desprezada. Para o atendimento deste último aspecto, boa parte das práticas desenvolvidas no ISOP também são assimiladas no novo curso. Os objetivos explícitos da nova escola bem demonstram a duplicidade de interesses, de modo que o IPA deveria ser “(…) uma instituição de ensino, de nível universitário de formação de especialistas em Psicologia Aplicada” e ser também um “centro de pesquisas, de documentação e de colaboração internacional no plano científico”( PUC-RJ, 1953, p. 153).Por fim, sem esquecer a vinculação a uma instituição católica, o IPA também objetivava, curiosamente, atender “à necessidade premente de uma orientação católica para o movimento científico experimental no campo da Psicologia” (PUC-RJ, 1953, p. 16). Deste modo, o professor Lippmann consegue, a um só tempo, satisfazer as preocupações teórico-filosóficas do professor Nilton Campos[xviii][18] e dos teóricos da academia, atender às demandas pragmáticas dos psicotécnicos e driblar as resistências que a PUC-RJ ainda fazia ao trato científico e laico dos homens, em especial em relação à Psicanálise.Conjugando tantos fatores e atendendo a preocupações diversas, o sucesso alcançado pelo curso foi uma decorrência quase que automática. De fato, o curso de Psicologia da PUC-RJ, o primeiro a ser criado no país, constituiu-se numa grande referência de formação “psi” no Rio de Janeiro, interferindo, de modo expressivo, nos rumos que a Psicologia tomou nesta cidade.