A hipnose é uma ferramenta importante e reconhecida no campo da prática psicoterápica, e seu manejo adequado pode ir além de auxiliar a reconhecer, e banir, os entraves que prejudicam o bem- estar. Além de atingir áreas “esquecidas”, com intuito de expressá-las e tornar possível sua elaboração numa nova perspectiva, permite, em consequência, a utilização do potencial do indivíduo, liberando as próprias alternativas de solução de diversas problemáticas psicológicas.
Esta autora utiliza a hipnose numa abordagem naturalista, na forma como é trabalhada por Milton H. Erickson, e este não se prende a procedimentos tradicionais, formais, como algo ritualizado, utilizando relógios ou a imagem fantasiosa do pêndulo, mas , ao contrário, procura devolver a Hipnose ao campo de utilização de mecanismos próprios do indivíduo, permitindo que habilidades naturais do ser sejam respeitadas e utilizadas.
Milton Erickson considerava que entrar no fenômeno do transe é uma habilidade que todos temos. Frequentemente entramos e saímos, automaticamente, de transes.
Este fenômeno envolve, na acepção de O’Hanlon e Martin (1992), aspectos como amnésia, anestesia, e a distorção do tempo e seriam adquiridos pelas pessoas através de experiências cotidianas. (1992).
Na hipnose esta habilidade, natural, passa a ser ampliada e dirigida a objetivos terapêuticos, pré-determinados, de acordo com a demanda do cliente.
Esta abordagem também supera os trabalhos sugestivos, tradicionais, uma vez que, ao utilizar aspectos significativos para o cliente, passa a ter um teor quase que artesanal dependente das características do indivíduo, respeitando seus valores e limites. Trata-se de um trabalho individualizado, o que, de certa forma, reduz os temores da pessoa sentir-se invadida, ou obrigada a fazer algo que não queira. Na verdade, este modelo psicoterápico combate atuações que cobrem do individuo algo que esteja fora de seu repertório! Não se tenta impor crenças ou ideias, mas buscar elucidar aquelas que, mesmo sendo significativas para o indivíduo, encontram-se inconscientes. Nossa tarefa passa a ser elucidá-las, expandindo-as, e guiando-as, para que estas forças sejam as produtoras da solução dos problemas a serem resolvidos.
O trabalho é feito utilizando-se de imagens, ou seja, da evocação e produção de imagens. E neste campo, importa trabalhar com imagens que despertem a capacidade criativa que todos temos! Colocar esta capacidade para buscar as saídas possíveis e desejáveis é o desafio, e, simultaneamente, aprender a relaxar, a conhecer e controlar seus próprios processos!
Neste campo da hipnose natural, entre os diversos mecanismos e processos auxiliares, um merece especial atenção, e tem se tornado motivo de trabalhos específicos, dado o poder que possui de encaminhar os demais processos. Neste âmbito temos a utilização produtiva de metáforas, que permitem um acesso, imediato, ao inconsciente, evitando questionamentos críticos, de natureza racional. Elas permitem que mensagens sejam passadas e incorporadas pelo ouvinte, produzindo, inclusive, modificações em suas crenças, atingindo e ampliando o comportamento do indivíduo. Milton H. Erickson desenvolveu Metáforas Terapêuticas, sendo reconhecido como grande especialista em sua construção e enunciação.
A metáfora permite que se transfira conceitos, entre situações, estimulando reflexões, propiciando novas possibilidades. Além disso, pode ser usada em diversos outros setores, além do campo psicoterápico, onde se deseje estimular a aprendizagem. Satisfaz um dos objetivos principais das práticas psicoterapêuticas ao provocar novas percepções e crenças desencadeando mudanças nos padrões de comportamento. Apesar de seu grande poder, é importante frisar que precisa, assim como as demais técnicas, estar inserida no contexto e padrão de vida do indivíduo. Caso seja mal formulada, ou não faça sentido naquela natureza particular, pode gerar confusões, ser mal encaminhada ou simplesmente passa a não ser aproveitada, ou seja para que possa ter força produtiva ela precisa estar adequada não apenas a uma situação especial, mas também às dinâmicas especiais circunscritas numa determinada individualidade. Portanto, conhecer o cliente, suas dinâmicas, suas crenças e desejos, passa a ser o caminho para que se acessem mais profundamente estes e outros mecanismos, e utilizando-os, se possa expandi-los de modo a ampliar as suas expressões e potencialidades. Desta forma as metáforas não são apenas construídas com base em histórias retiradas de fábulas, parábolas, contos zen e outros, mas podem ter sua origem na criatividade e habilidade do terapeuta em formulá-las e, com base na utilização, relacioná-las à problemática e às características de personalidade do indivíduo.
De acordo com Consuelo Casula, a metáfora propicia, também, o acesso a recursos motivacionais como Esperança e Resiliência (Metáforas para Evolução Pessoal e Profissional). É no espaço particular que ela se encaixa de forma bastante peculiar. Envolve o que existe de forma experiencial em cada um e, contando com identificações, acaba sendo absorvida e provoca intuições diferenciadas. Respeita, portanto, a individualidade e a liberdade interpretativa, e certamente desafia o esclarecimento de ambiguidades. Conforme já salientado, a Metáfora neutraliza defesas, sendo certo que este é um de seus benefícios principais, e, ao fazer abordagem de forma indireta, permite o acesso mais imediato à mente inconsciente e aos recursos que desencadeiam forças poderosas para promoção de mudanças evolutivas nas pessoas e em suas relações.
Importante, então, desenvolver um estudo aprofundado das metáforas possíveis, suas aplicações, e construções, de modo a tornar clara sua significância em determinados contextos, ou que sejam apropriadas para determinadas características individuais. É condição primordial descobrir quais metáforas possam ter maior significado ou maior poder de influência, quer seja para buscar conteúdos básicos, ou para provocar mudanças objetivadas. Buscar o manejo adequado deste instrumento. atingindo aquilo que existe de diferente em cada um, é passo importante na abordagem terapêutica da psicoterapia estratégica, uma vez que abre um canal significativo para que o ser desenvolva suas potencialidades.
Bibliografia
O´HANLON, William H. e MARTIN, Michael – Hipnose centrada na solução de problemas, Livro Pleno, 2002
SHORT, Dan – Estrategias Psicoterapéuticas de Milton H. Erickson; México, Alom Ed. 2006
CASULA, Consuelo – Esperanza y Resiliencia, in Estrategias Psicoterapéuticas de Milton H. Erickson; México, Alom. Ed. 2006
LEAN, Tamine J. – A formação da Identidade: o paradoxo como gerador do único. Mestrado Fundação Getúlio Vargas, RJ, 1985
LEAN, Tamine, J. -Coordenação Acadêmica de ROBLES, Tereza – Estratégias Psicoterápicas de Milton Erickson na visão de Dan Short, apostila para curso na Santa Casa de Misericórdia do RJ, promovido pelo Instituto Milton Erickson de Petrópolis e Centro Ericksoniano do México, 2012
Milton Erickson – O que é transe hipnótico?
Milton Erickson – O homem por trás do mito
Milton Erickson – Qual é a melhor técnica?