A hipnose na terapia breve

 

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Serguei Rachmaninov

A hipnose na terapia breve

Dr. Lewis R. Wolberg

(Impresso em 09 /11/ 2000)

Corria o ano de 1897 e o lugar era São Petersburgo.

A ocasião foi a estréia da Primeira Sinfonia de um compositor de vinte e quatro anos de idade (Serguei Rachmaninoff). Foi um completo fiasco e o próprio Rachmaninoff descreveu como ficou sentado, mudo de horror, durante parte da execução e, depois fugiu da sala de concertos antes do fim. Numa festa que tinha sido organizada em sua homenagem para essa noite, depois do concerto, continuou agitado e inquieto, mas o golpe final chegou na manhã seguinte, quando apareceram as críticas.

Cesar Cui
Cesar Cui

Em The News, Cesar Cui escreveu: “Se no inferno existisse um Conservatório, Rachmaninoff ganharia facilmente o primeiro prêmio para sua sinfonia, tão diabólicas são as discordâncias que nos oferece.”

Esta combinação de acontecimentos foi excessivamente traumática para uma personalidade tão sensível quanto a de Rachmaninoff. Foi avassalado por um acesso de depressão e apatia, do qual não foi capaz de erguer-se, e que durou dois longos e sombrios anos. Finalmente, seus amigos convenceram-no a consultar um dos pioneiros no campo da auto-sugestão, o Dr. Dahl. (o psicólogo Nikolai Dahl)                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            

Sergei Rachmaninoff
Sergei Rachmaninoff

Rachmaninoff , em suas memórias (Rachmaninoff’s Recollections, contadas a Oscar Von Riesemann), narra a história: “Pessoas de minhas relações disseram ao Dr. Dahl que ele devia fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para curar-me da apatia e pôr-me em condições de recomeçar a compor. Dahl perguntou que gênero de composição desejavam e recebeu a resposta: um concerto para piano, pois tinha prometido um para ser apresentado em Londres e desistira, tomado de desespero. Por conseqüência, ouvi a mesma fórmula hipnótica repetida dia após dia, enquanto jazia, meio adormecido, numa poltrona do gabinete do Dr. Dahl: ‘Você começará a escrever o seu concerto… Vai trabalhar com grande facilidade… O concerto será de excelente qualidade…’ Sempre as mesmas sugestões, sem interrupção. Embora pareça incrível, esse tratamento me ajudou, realmente. No início do verão já estava compondo outra vez. O material acumulado e novas idéias musicais começaram a agitar-se dentro de mim… muito mais do que precisava para o meu concerto. Quando o outono chegou, já tinha completado dois movimentos (O Andante e o Finale)… Toquei-os nessa mesma estação, num concerto de beneficiência regido por Siloti… com lisonjeiro êxito… Na primavera seguinte o primeiro movimento (Moderato) estava concluído… Senti que o tratamento do Dr. Dahl revigorava meu sistema nervoso num grau milagroso. Por gratidão, dediquei-lhe o Concerto Nº 2.”

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Dr. Nikolai Dahl

Quaisquer que fossem os outros efeitos que o tratamento do jovem Rachmaninoff pelo Dr. Dahl tivessem produzido, a dissolução dos seus sintomas e a devolução de sua capacidade criadora foram auxiliadas, evidentemente, pelo recurso à prática da hipnose. Hoje em dia, não nos damos por satisfeitos com uma simples restauração da homeostase como objetivo do tratamento. Esforçamo-nos, além disso, por resolver conflitos devastadores e por fortificar a própria estrutura da personalidade. Por conseguinte, a hipnose é empregada conjuntamente com outras técnicas de terapia breve, com a finalidade de catalisar o processo de tratamento total. Isto não significa que a hipnose nunca deva ser empregada para a remoção de sintomas, para o alívio ou a substituição da sintomatologia em caso de emergência, ou quando o paciente está tão-somente motivado para a eliminação do mal-estar que o incapacita. Mas tal uso deve ser reconhecido como um objetivo limitado; se mudanças mais substanciais na personalidade ocorrerem, devem ser consideradas um subproduto fortuito.

Wolberg
Dr. Lewis Wolberg

Fundamentos lógicos para o uso da hipnose by Dr. Lewis Wolberg (foto)

Uma apreciação dos valores terapêuticos da hipnose é dificultada por numerosos obstáculos humanos.

Primeiro, há psiquiatras, que têm pouca experiência, mas grande convicção, que investem contra o uso de técnicas hipnóticas. Fazendo-se eco das dúvidas que Freud expressou no final do século XIX, denunciam o método como um uso irracional da sugestão, o qual contorna e, por conseguinte, negligencia a resistência, contamina a transferência, assim reavivando as necessidades e aspirações regressivas, e só temporariamente elimina os sintomas, para vê-los reaparecerem em sua forma original ou numa outra forma. Nestas circunstâncias, alegam eles, a hipnose serve como agent e contaminador de uma boa terapia.

Em segundo lugar, há profissionais com experiência considerável no campo da hipnose que nos advertem contra seus perigos, descrevendo com vivas cores casos em que ocorreram acessos de sexualidade e hostilidade, e até colapsos psicóticos.

Terceiro, há indivíduos que empregam a hipnose e acham que seus efeitos são demasiado evanescentes e inócuos para influírem no tratamento, para bem ou para mal.

Em quarto lugar, temos aqueles que se mostram tão entusiasmados com a terapia hipnótica que a empregam indistintamente em todas as perturbações imagináveis e até a recomendam para estimular as funções normais.

Finalmente, há investigadores que negam a existência de tal coisa como um estado hipnótico, afirmando tratar-se apenas de uma “encenação”, representada pelo indivíduo para agradar ao operador; ou insistem em que a hipnose é, meramente, sugestão com acessórios não-essenciais e rituais de pantomima.

Há, na literatura, um dilúvio de escritos oriundos de todos os grupos acima citados, fazendo com que seja, pelo menos, precária uma avaliação da hipnose por parte do terapeuta que deseja empregá-la.

A ambivalência em torno dos resultados não é, evidentemente, exclusiva da hipnose. Afeta, praticamente, todos os ramos da psicoterapia.

A psicanálise, sobretudo, já recebeu mais do que sua conta de publicidade desfavorável, pela pena de teóricos autodidatas e de alguns sofisticados psicanalistas “vira-casacas”.

Tanto nos escritos científicos como nos de divulgação, a ineficácia e o perigo da farmacoterapia, da psicocirurgia, da terapia de grupo e de outras formas de tratamento são periodicamente destacados.

Tais críticas têm seus aspectos favoráveis, dado que focalizam as atenções sobre algumas das fraquezas dos nossos modos correntes de tratamento. Entretanto, ao exagerarem as deficiências, em vez dos sucessos registrados, grande dano podem causar as muitas pessoas que precisam de ajuda e que poderiam beneficiar-se da cuidadosa aplicação do método criticado.

Um certo número de pacientes, advertidos contra a hipnose por seus médicos ou psiquiatras e flagelados por sintomas que não cedem às técnicas tradicionais, consultam, finalmente, um praticante de hipnose, desafiando tais advertências num gesto de desespero. À parte as usuais resistências ao tratamento, o esforço terapêutico é contrariado pelas dúvidas e sentimentos de culpa que assediam o paciente por ter desafiado uma autoridade respeitada, dúvidas e sentimentos esses que se somam à convicção de que é um caso perdido e ao efeito negativo da panacéia.

Além disso, uma outra complicação adultera a aplicação terapêutica da hipnose; refiro-me à expectativa de efeitos mágicos, por parte do paciente e do terapeuta.

Bola de cristalA hipnose está aliada, no espírito de alguns pacientes, a fenômenos supranormais, tais como telepatia, clarividência, premonição, adivinhação e manifestações de sobrevivência após a morte. Esta associação é fomentada, sem dúvida, pela confusão tradicional de hipnose com bruxaria, por aquilo que pode ser considerado como extravasamentos fantasmagóricos no transe, que, aparentemente, desafiam as leis da natureza, e pelas extraordinárias produções literárias que descrevem “revelações em transe”, escrita automática, visões na bola de cristal e falas durante o êxtase.

A noção de que a hipnose é uma substância maravilhosa que pode, não se sabe como, provocar rápidas curas é um aspecto do desejo ancestral de feitiçaria que a maior parte dos pacientes possui, ao acudir a um curandeiro que aliviará, assim esperam, seus sofrimentos.

Isto redunda, inevitavelmente, em desapontamento, porque a hipnose não possui uma vara mágica para rechaçar um inimigo que durante anos desafiou todo o controle e até a localização. E o terapeuta poderá, nas primeiras fases de suas experiências com a hipnose, imaginar que vai fazer o impossível. Quando a resistência começa a ripostar, neutralizando as sugestões comunicadas ao paciente no estado hipnótico, o terapeuta pode facilmente perder a fé no poder da hipnose de conter ou resolver a doença do seu paciente.

Uma outra confusão que prejudica a aceitação plena da hipnose como modo de tratamento é o dilema que envolve sua natureza exata. Se analisarmos a literatura, veremos que a hipnose é identificada com dependência, masoquismo, homossexualidade, transferência, fixações pré-genitais e mais uma porção de coisas.

Sustenta-se que seu ponto de origem está no prosencéfalo, no tálamo, na formação reticular, nos neurônios ou nas sinapses. As provas apresentadas a favor de cada uma dessas filiações, desde os experimentos laboratoriais ao conteúdo de verbalizações, fantasias, sonhos e manifestações do comportamento, são em número deveras impressionante.

Se o leitor se inclinar em qualquer direção especial ou se deixar impressionar pela reputação do autor, endossará facilmente tais teorias. Mas é essencial ser cauteloso na atribuição à hipnose de qualquer local permanente no catálogo da sua causalidade. Sabemos tão pouco sobre o ponto em que a hipnose se entronca na eletrônica ou na química ou na neurofisiologia da função cerebral quanto sobre a natureza da consciência ou do sono. Não estamos mais avançados em sondar a psicologia, psicodinâmica ou sociologia da hipnose do que os processos cognitivos, afetivos e comportamentais não hipnóticos.

Parece que o mais prudente seria expor a hipnose às condições do método científico, com suas leis fases sucessivas: observação, análise, compreensão, formulação, experimento e reprodução.

Entretanto, na aplicação dessas operações, devemos reconhecer que a hipnose, tal como outras ciências do comportamento, carece de um paradigma conceptualmente simplificado, em torno do qual possamos cristalizar nossas ideias da teoria.

Book L WolbergPor muito sofisticados que nossos experimentos sejam ou por mais brilhantemente que julguemos ter verbalizado nossas hipóteses, devemos ter a maior prudência, para impedir a metamorfose dos nossos dados em dogmas e de nossas idéias em ideologias.

As múltiplas e complexas variáveis que intervêm na hipnose, a dificuldade em controlar as circunstâncias do experimento, a falibilidade do observador, a miopia dos seus preconceitos e a impossibilidade prática de estabelecer controles adequados tornam a modéstia uma atitude essencial ao se atribuir uma idoneidade preditiva a quaisquer eventos observados no estado de transe.

A objeção de que não deveríamos empregar um método cuja natureza precisa ainda é desconhecida, poder-se-ia replicar que a maior parte da medicina tem suas raízes no solo do empirismo.

Somente através da observação e da experimentação constantes estamos aptos a estabelecer o valor específico de alguns dos nossos instrumentos terapêuticos.

Ainda empregamos os outros sem saber por que é que funcionam; basta-nos saber que funcionam. E, assim, utilizamos a hipnose, embora não esteja perfeitamente claro o que é e como funciona, exatamente.

Existem perigos na hipnose?

Ainda mais importante na avaliação da hipnose é a existência de certos relatos sobre os efeitos precários do seu emprego, os quais se têm beneficiado de publicidade na imprensa leiga e profissional. O terapeuta poderia deduzir de tais relatos que praticar a hipnose é como apanhar um tigre pelo rabo, que poderá, por causa do caráter traiçoeiro da situação aumentar o problema.

Há algum tempo, iniciei um programa de pesquisas que tinha por finalidade estudar os presumidos perigos da hipnose.

Questionários cuja maioria nos foi devolvida, foram remetidos a quase 2.000 profissionais, divididos em duas categorias: uma formada pelos membros de duas organizações profissionais de hipnose; outra, composta de pessoas que não estavam filiadas a essas organizações.

Entre as perguntas estavam incluídas estas:

  • Se o depoente, no caso de utilizar a hipnose, testemunhara alguns efeitos indesejáveis, sendo especificamente enumerados alguns sintomas.
  • Se o depoente também verificara algumas dessas mesmas conseqüências em pacientes tratados sem hipnose.

Os questionários devolvidos por médicos de clínica geral, psiquiatras, dentistas e psicólogos que informavam não empregar a hipnose em suas práticas mostraram, aproximadamente, a mesma percentagem e as mesmas espécies de reações indesejáveis, como resultado de procedimentos não hipnóticos, que apareciam no grupo que praticava a hipnose.

Contar cabeças, desta maneira, não será o melhor gênero de metodologia científica; mas, certamente, uma amostragem dessa dimensão comportará alguma relação com os fatos.

Minha impressão, ao estudar os questionários, foi de que existe uma quantidade enorme de pessoas emocionalmente instáveis, propensas a manifestar indícios de reação perturbada ante qualquer espécie de procedimentos terapêuticos que se revistam de um significado inquietante ou assustador para o paciente, quer se trate de hipnose, psicanálise ou algum outro tipo de psicoterapia.

Book WolbergA hipnose é, em si mesma, um procedimento inofensivo.

Contudo, se constar, na mente do paciente, algo pernicioso, ou se o terapeuta se conduzir de modo antiterapêutico durante a hipnose, o paciente poderá reagir com ansiedade.

Se bem que a hipnose possa diminuir as barreiras repressivas e facilitar um retorno à consciência de certos conteúdos psíquicos reprimidos, não há razão, porém, para recear que o paciente seja automaticamente chocado por isso, mesmo que seu ego seja frágil.

Empreguei a hipnose com proveito em inúmeros casos de pessoas psicóticas e limítrofes, e verifiquei que os estudos contribuem mais para acalmá-las do que para perturbá-las. Mas o que pode, realmente, perturbar o paciente são atividades, atitudes e sentimentos, no terapeuta, que se transmitam ao paciente e não sejam no interesse da boa terapia.

Foi-me encaminhado um paciente num estado de ansiedade que estava provocando uma desorganização vizinha ao colapso psicótico. Estivera sob os cuidados de um psiquiatra que empregara a hipnose e tanto a família como o próprio paciente tinham a impressão de que essa técnica fora a responsável pelos atuais distúrbios.

O paciente era um indivíduo obsessivo-compulsivo que realizava sempre uma adaptação marginal, utilizando suas defesas compulsivas. Pouco depois do seu casamento, começou a desenvolver um medo intenso de objetos pontiagudos, sobretudo facas,  fazia mil rodeios para evitá-los, chegando até ao ponto de fechar a sete chaves todos os instrumentos de cutelaria que apresentassem um perigo potencial; a gaveta onde todos esses utensílios foram acumulados estava confiada à guarda de sua esposa, que tinha a chave e estava instruída para não lhe dizer o paradeiro.

O que estava subjacente nessa manobra toda era um medo de perder o autodomínio e, apoderando-se da arma, enterrá-la no peito de sua esposa. Latente neste medo e impulso havia um sentimento de ter caído na armadilha que sua esposa lhe estendera, tal como antes se sentira colhido por sua mãe.

Encasulado num casamento confiante que interpretara como um roubo da pouca independência que finalmente conseguira, encarava a possibilidade de uma libertação pela violência e, então, a culpa levava-o a reprimir esse impulso.

O que inquietava e perturbava a esposa, fazendo-a insistir em que o paciente visse um psiquiatra, eram as precauções que tomava para evitar apoderar-se da chave confiada à guarda dela.

Como ela poderia falar durante o sono e revelar o paradeiro da chave, o paciente exigiu que a esposa dormisse num outro quarto.

Depois, temeu que, num acesso de sonambulismo, caminhasse até o quarto dela e que o estímulo de sua presença pudesse provocar a informação indesejável. Como medida de precaução, insistiu em que fossem colocados baldes de água na porta, para que tropeçasse e caísse, acordando do sonambulismo, durante qualquer missão fatídica.

Durante a terapia, o psiquiatra tinha decidido dessensibilizar o paciente, para facas, e, recorrendo à hipnose, sugeriu-lhe que, enquanto se imaginava numa atmosfera agradável, como uma festa de aniversário ou um piquenique, se visse tocando, depois agarrando e utilizando uma faca para preparar uma refeição.

Em seguida, sugeriu ao paciente que procurasse usar facas para outros fins domésticos.

Depois disso ter sido realizado com êxito, o terapeuta sugeriu vigorosamente ao paciente, durante a hipnose, que demonstrasse a si mesmo jamais usar uma faca com intuitos destruidores, colocando uma faca de podar debaixo do travesseiro e dormindo sobre ela.

Na tarde seguinte a essa sugestão, o paciente telefonou ao terapeuta, num estado de grande ansiedade, perguntando se era realmente necessário executar uma ordem hipnótica, e recebeu a ordem peremptória de fazer o que lhe fora ordenado.

Durante uma noite inquieta, o paciente viu-se acariciando a faca e reagindo com terror ao impulso para entrar no quarto de sua esposa. Na manhã seguinte, teve uma crise de pânico, da qual não parecia capaz de se recuperar.

Minha terapia foi, essencialmente, de natureza tranquilizadora e a hipnose foi empregada para ajudar a aliviar sua angústia, com efeitos benéficos.

Book vol IIUma terapia é tão boa quanto aquele que a executa. Um bisturi é uma ferramenta que, nas mãos de um hábil cirurgião, pode ser um instrumento salvador. Mas, nas mãos de um indivíduo inepto que tente praticar cirurgia, os danos que causará são irreparáveis.

Empregada por um terapeuta inepto e sem treino adequado, a hipnose pode ser inútil e até prejudicial para os pacientes.

A hipnose estimula uma poderosa relação entre o terapeuta e o paciente, a qual influencia ambos os participantes.

Por parte do paciente, trata-se, basicamente, de uma reconstituição simbólica das relações com um parente idealizado que lhe dará todo o apoio e as gratificações que acredita lhe terem faltado em sua própria infância.

Isto, em sua essência, é idêntico ao que acontece em qualquer relação médico-paciente, em que o paciente, perturbado, tenso, com dores e cheio de medo, acode à figura benéfica e curativa que porá fim às suas aflições.

Durante a hipnose, esse efeito é intensificado.

Essencialmente, o paciente, acudindo a um agente parental protetor, investe no hipnotizador qualidades onipotentes e oniscientes.

Isto é complicado pelo fato de que, mais cedo ou mais tarde, poderá projetar no terapeuta as atitudes e reviver com ele algumas das experiências que teve com seus pais ou irmãos, durante os períodos formativos vitais de sua infância e adolescência.

Esse drama transferencial pode ser precipitado e negado no processo terapêutico e sua gestão constitui a própria essência da terapia de profundidade.

No decurso habitual da terapia breve, com ou sem hipnose, essas projeções irrealistas não constituem um grande problema, salvo o caso de pacientes muito graves, e a tendência é serem neutralizadas quando não são encorajadas pelas técnicas analíticas formais, como a associação livre, a exploração do passado, a passividade do analista e o uso do divã.

Contudo, poder-se-ão observar provas de transferência durante e após a hipnose, através de lapsos da fala, sonhos, atitudes e sentimentos que a terapia breve contornará, a menos que interfiram com sua terapia. As relações realistas com o terapeuta sobrepõem-se, mais ou menos, à relação de transferência, mantendo-a em xeque.

Também é importante o fato de que a hipnose pode mobilizar no terapeuta algumas atitudes e sentimentos neuróticos em relação ao paciente.

Enquanto este se encontra em transe, apresenta-se ao seu espírito como uma espécie de indivíduo diferente do que é no estado de vigília. Passivo e imobilizado, pelo menos na aparência, o paciente pode estimular em alguns terapeutas fantasias de onisciência, grandeza, sadismo e sexualidade.

Quando o próprio terapeuta tem problemas por resolver em suas relações interpessoais, poderá projetá-los na maneira como fala, em sua ênfase em determinadas espécies de conteúdo e suas manifestações de comportamento incomum em relação ao paciente.

O paciente em hipnose reagirá, geralmente, com ansiedade a tais manobras.

Muitos terapeutas são capazes de fazer uma boa terapia com seus pacientes, quando estes estão acordados; mas, quando tentam empregar a hipnose, perdem sua objetividade e, por conseguinte, sua eficácia terapêutica.

Portanto, é importante que cada terapeuta estabeleça a utilidade que o método hipnótico possui para ele, e pense sobre alguns pontos.

  • Terá de empregar uma metodologia de determinada abordagem quando utiliza a técnica da hipnose?
  • A hipnose faz com que se sinta poderoso, sádico, ansioso ou sexualmente estimulado?
  • Há uma mudança em seus sentimentos para com o paciente?
  • Pode aplicar os mesmos critérios dinâmicos às respostas comportamentais do paciente em hipnose, tal como os usaria no caso de pacientes com quem trabalha sem hipnose?
  • A hipnose tem um significado pessoal que o leva a supervalorizar seus efeitos?

Estas interrogações só podem ser respondidas quando o terapeuta utiliza a hipnose com vários pacientes e observa cuidadosamente suas próprias reações, assim como as dos pacientes.

Quando estes manifestam, sistematicamente, inclinações agressivas, sexuais ou masoquistas, durante ou após um transe, o terapeuta poderá encontrar a origem em si próprio.

   Se não controlar suas próprias emoções enquanto hipnotizador, a hipnose, como coadjuvante, não é coisa para ele.

Partindo do princípio de que a contra transferência não constitui problema de monta, cada terapeuta ainda terá de realizar experiências com a hipnose para ver como poderá combiná-la com suas próprias técnicas, sua personalidade e seus modos peculiares de trabalhar com os pacientes.

A indução da hipnose pode ser facilmente aprendida, muitas vezes em poucos minutos, mas será preciso muito tempo para testar seus efeitos sobre os resultados terapêuticos.

medical-hypnosisPode a hipnose eliminar sintomas?

Parece lógico esperar que a hipnose seja capaz de eliminar sintomas, pelo menos temporariamente, sem explicar a origem ou o propósito dos mesmos. Em alguns casos, essa expectativa será satisfeita.

As sugestões autoritárias, sobretudo durante a hipnose, podem modificar ou remover sintomas de natureza histérica, desde que não se revistam de grande valor funcional, tendo cumprido sua finalidade neurótica e esgotado o ganho secundário.

Outros sintomas que são o produto da tensão podem ser automaticamente aliviados, como resultado da resolução da tensão durante a hipnose.

Em suma, o antigo aforismo de que os sintomas eliminados pela hipnose devem reaparecer numa forma idêntica ou numa outra forma, ou de que o equilíbrio psíquico será perturbado, precipitando uma psicose, é pura ficção.

Esse alívio pode ser permanente e pode-se tirar proveito desse intervalo livre de sintomas para encorajar uma melhor adaptação à vida.

Presencia-se, repetidamente, o fenômeno de um indivíduo que, vitimado por um sintoma, quer se trate de uma paralisia funcional, de um tique facial, de obesidade, impotência ou qualquer outro defeito, fica tão afundado em sua desdita e em seu próprio fracasso concreto em realizar-se plenamente, que até sua capacidade de funcionamento é prejudicada.

Anunciar a uma pessoa nessas condições que teremos de adiar o tratamento de suas queixas imediatas até que se investiguem a fundo os fatores determinantes do seu desenvolvimento, é ilógico e injusto.

Tentar proporcionar-lhe o maior alívio no menor prazo de tempo constitui uma medida de solicitude que pode ajudar incomensuravelmente a forjar uma boa relação terapeuta-paciente. Se conseguirmos aliviar os sintomas, a restauração do funcionamento normal poderá redimir o amor-próprio do paciente e melhorar suas relações interpessoais, nos interesses de um melhor ajustamento total.

A técnica da terapia breve permitindo a resolução de um aspecto do problema do indivíduo pode iniciar uma reação em cadeia com reflexos em toda a estrutura de personalidade, que influenciam outras das suas dimensões.

Presenciei alguns exemplos surpreendentes de como umas poucas sessões hipnóticas podem alterar até os padrões mais sérios em todo o espectro da patologia psiquiátrica.

Como e por que tais alterações se produziram é algo que ultrapassa minha compreensão. O fato de que aconteceram é testemunho de uma plasticidade inerente aos seres humanos que, por vezes, s e aproveita da hipnose para dar rédeas às forças curativas adormecidas.

Um paciente, um pregador oriundo de um Estado distante, que dedicara sua vida a ajudar os pobres e desvalidos, tinha ficado obcecado, seis anos antes de sua entrevista inicial comigo, aos quarenta anos de idade, por anseios homossexuais que o faziam rondar pelas ruas em busca de homens fisicamente atraentes.

Para seu horror, viu-se entrando em banheiros públicos para observar os órgãos genitais de estranhos. A penitência, a oração e a imposição a si mesmo das mais severas disciplinas não conseguiram acalmar-lhe a consciência nem sustar, pelo menos, suas incursões pelo pecado.

Ele, que era um dos pilares da comunidade, sabia que estava pondo a perder sua reputação e segurança com uma conduta que só poderia acarretar a desgraça sobre si, sua esposa e seu filho.

O desejo homossexual invadira-o após uma gradual perda de interesse sexual por sua esposa. Excetuando-se as esporádicas masturbações mútuas com um colega, no começo da adolescência, suas propensões sexuais tinham sido exclusivamente dirigidas a mulheres.

Fizera uma boa escolha conjugal e, asseverou ele, seu ajustamento sexual com a esposa, nos primeiros anos, era excelente. Sentia-se incapaz de compreender que forças maléficas o houvessem sobrepujado, ameaçando sua reputação, segurança e seus sentimentos de integridade como um homem de Deus.

Em busca de alguma resposta, explorara revistas de medicina e, numa delas, deparara-se com um artigo sobre hipnose, escrito por mim, que o deixara tão intrigado que resolvera economizar o máximo que seus parcos rendimentos lhe permitiam, juntando o suficiente para uma viagem de três dias a Nova Iorque.

Tinha certeza de que, com uma sessão de hipnose que eu lhe induzisse, seria arrancado do caminho da ruína em que se encontrava e colocado de novo, firmemente, na senda heterossexual.

Eu não compartilhava excessivamente de sua confiança em meus talentos nem de sua exuberante certeza de que as coisas seriam corrigidas com tanta facilidade. Contudo, em vista do grande sacrifício que fizera em vir à Nova Iorque, não tive coragem de frustrar seu otimismo.

Mal dispunha de tempo para escutar uma descrição esquemática de sua história e induzir a hipnose, durante a qual lhe disse que tinha a impressão de que não estava tão doente quanto imaginava e que, em virtude de seu bom ajustamento passado com a esposa, possuía suficiente força íntima para sustar suas explorações homossexuais.

Devia haver algumas razões pelas quais o interesse por sua esposa declinara.

Talvez se tivesse enfurecido com ela por algum motivo e reprimido seu ressentimento.

Como renunciara a tanta coisa para vir consultar-me, estava demonstrando, com isso, querer, intimamente, a heterossexualidade e não tardaria em recuperar seu desejo pela esposa. Começaria a ter sonhos em que reconheceria por que se afastara de sua mulher e sonhos em que se sentiria em íntimo contato físico com ela.

Seria capaz de auto hipnotizar-se regularmente e de dar a si mesmo sugestões para observar-se explorando as causas de sua perturbação, assim como para recuperar a fé em si próprio como homem. Antes de dar a sessão por terminada, instruí-o brevemente sobre a auto hipnose.

Em cartas semanais regulares, durante alguns meses, deu-me pormenores de sua prática e contou sonhos que traduziam medo e hostilidade em relação a figuras femininas.

Em sonhos posteriores, esses sentimentos começaram a se tornar gradualmente mais benignos. Retornaram as fantasias sexuais de natureza heterossexual.

Difícil no começo, achou progressivamente mais fácil conter suas excursões homossexuais. Em poucos meses, o contato sexual com a esposa foi restabelecido, com uma satisfação sistematicamente crescente.

Uma correspondência periódica durante oito anos e uma visita de acompanhamento pós-clínico indicaram mudanças em sua adaptação geral que teriam sido registradas como um êxito impressionante da terapia prolongada, se esta abordagem tivesse sido prescrita.

Não tenho certeza sobre o que teria acontecido para alterar os complexos mecanismos intrapsíquicos do paciente, e se as mudanças foram provocadas por fatores ilusórios de panacéia, pelas influências salutares da auto-observação ou por ambas as coisas. Qualquer que fosse o mecanismo, o certo é que o entreato hipnótico desempenhou um assinalável papel na melhora do paciente.

Tenho tido numerosas experiências com obsessivo-compulsivos crônicos que se torturavam com suas fantasias angustiosas e que, após terem passado sem êxito pela psicoterapia e pela psicanálise prolongadas, reagiram favoravelmente a algumas sessões hipnóticas concentradas em ensinar ao paciente como rechaçar de sua mente as obsessões e ocupá-la com preocupações mais pacíficas e produtivas.

O jovem Rachmaninov
O jovem Rachmaninov

Em numerosos pacientes, comprovou-se que a auto-hipnose era um instrumento valioso. Em estudos de acompanhamento pós-clínico, alguns desses pacientes, que tinham sido considerados casos perdidos, mostraram mudanças espantosas em sua estrutura total de personalidade e em sua adaptação à realidade, as quais superaram em muito minhas expectativas clínicas.

Desses exemplos, não devemos supor que a hipnose seja um substituto para o tratamento prolongado, nos casos em que esta abordagem é indicada.

Quando indicado e bem aplicado, o tratamento prolongado pode promover uma mudança tão profunda na personalidade que os resultados são excitantemente compensadores. As resistências podem ser combatidas de modo sistemático e eficaz, e novos potenciais podem ser libertados para estimular o ajustamento.

Ao mesmo tempo, não devemos minimizar o que pode ser feito pelas pessoas com um tratamento breve, sobretudo quando nos deparamos com problemas que não se prestam a uma exploração prolongada ou quando, em virtude de necessidades pessoais, se teme que o paciente se perca, irremediavelmente, num interminável labirinto terapêutico.

Em tais pessoas, a hipnose pode contribuir substancialmente para o esforço do tratamento breve.

Nem todos os sintomas cedem à influência hipnótica.

Os que servem a um propósito importante na economia psicológica e os que decorrem de tensões que resistem à influência apegam-se ao paciente com um desespero que desafia os recursos combinados do hipnotizador.

A maioria dos pacientes pode facilmente neutralizar as intenções do hipnotizador, resistindo às sugestões, mesmo no mais profundo estado de transe.

Mas, se o paciente for um ótimo sujeito hipnótico e o hipnotizador for hábil, embora seja, obviamente, um mau terapeuta, se o fizer, poderá confundir astutamente os problemas e induzir o paciente a condescender, por meio de seus ardis.

Nesse caso, o paciente poderá ficar exposto a perigos que evitou até então com seus sintomas e que agora poderão desencadear uma ansiedade incontrolável e desintegrar sua reserva psicológica.

A semântica da sugestão é importante.

Um paciente a quem se ordena que suprima um sintoma poderá resistir, por um reflexo de seus ressentimentos contra os pais excessivamente disciplinadores, ou, raramente, se for um sujeito hipnótico excepcionalmente bom, poderá condescender por algum tempo.

Em última instância, sua ansiedade o forçará a restabelecer seus controles sintomáticos.

Por outro lado, se dissermos ao paciente que sentirá o desejo de abandonar seus sintomas, que esse desejo ganhará tanta força que o levará a querer fazer tudo o que for necessário para livrar-se de tais sintomas e que desfrutará com prazer da experiência de ser agora um indivíduo livre de sintomas, poderá reagir da maneira mais apropriada.

Por exemplo, se um paciente tem um tique facial, poderemos dizer-lhe na hipnose:

“Você descobrirá que se sente muito mais descontraído e, portanto, muito mais à vontade e muito melhor, acabando com sua necessidade de ter esse sintoma particular. Poderá passar o dia todo sem pensar sequer nesse tique e sentindo-se bem com essa ausência. Isso acontecerá porque o tique deixou de ter qualquer significado para você. Quando chegar ao ponto em que vai querer renunciar ao seu tique facial, então descobrirá que ele já não existe.”

A improvisação de sugestões deste gênero pode ser feita para tendências tais como a glutonaria na obesidade, a falta de apetite na subnutrição, o fumo, a insônia, a enurese, a impotência e outros sintomas. Essas sugestões podem ser muito eficazes.

Lápide OBITUARY FOR LEWIS WOLBERG (1905-1988) & ARLENE R. WOLBERG (1907-1989).

Dr. Lewis R. Wolberg, a psychoanalyst and founder and former chairman of the Postgraduate Center for Mental Health, died of a heart attack Feb. 3 at his winter home in La Penita, Jalisco, Mexico, near Puerto Vallarta. He was 82 years old and also lived in Putnam Valley, N.Y.

The Postgraduate Center is the oldest low-cost psychiatric clinic in New York City. It was founded in 1945 by Dr. Wolberg and his wife, Arlene R. Wolberg, a psychiatric social worker. The clinic began in the basement of a brownstone and outgrew two other homes, until it settled into its present location in an eight-story building at 124 East 28th Street.

Dr. Wolberg founded the center to aid World War II veterans. Now it provides outpatient and inpatient services, resident training and community health care.

L. WolbergDr. Wolberg was born in Odessa in the Ukraine. He graduated from the University of Rochester and the Tufts College Medical School. He trained at the New York Psychoanalytic Institute and was certified by the American Institute for Psychoanalysis in 1943.

An advocate of using hypnosis in psychoanalysis, Dr. Wolberg wrote extensively on the subject. He was the author or editor of 20 books, including the text ”The Technique of Psychotherapy.”

Dr. Wolberg was an attending psychiatrist at New York University and Bellevue Hospitals at his death. From 1967 to 1986, he was professor of psychiatry at the New York University School of Medicine. Dr. Wolberg was dean and medical director of the Postgraduate Center until 1970 and the chairman of the center from 1970 to 1986.

Surviving are his wife and two daughters, Barbara Jane Hamburger and Ellen May Baumwoll, both of Manhattan.

 

Sergei Vasilievich Rachmaninoff (em russo: Сергей Васильевич Рахманинов)

(Semyonovo1 de abril de 1873 — Beverly Hills28 de março de 1943) foi um compositorpianistamaestro russo, um dos últimos grandes expoentes do estilo Romântico na música clássica européia. “Sergei Rachmaninoff” foi como o próprio compositor grafou seu nome quando viveu no ocidente, durante a última metade de sua vida. Entretanto, transliterações alternativas de seu nome incluem Sergey ou Sergej, e RachmaninovRachmaninowRakhmaninov ouRakhmaninoff.

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Paisagem romântica

Rachmaninoff é tido como um dos pianistas mais influentes do Século XX. Seus trejeitos técnicos e rítmicos são lendários, e suas mãos largas eram capazes de cobrir um intervalo de uma 13ª no teclado (um palmo esticado de cerca de 30 centímetros). Especula-se se ele era ou não portador da Síndrome de Marfan, já que se pode dizer que o tamanho de suas mãos correspondia à sua estatura, algo entre 1,91 e 1,98 m. Ele também possuía a habilidade de executar composições complexas à primeira audição. Muitas gravações foram feitas pela Victor Talking Machine Company, com Rachmaninoff executando composições próprias ou de repertórios populares.

Sua reputação como compositor, por outro lado, tem gerado controvérsia desde sua morte. A edição de 1954 do Grove Dictionary of Music and Musicians notoriamente desprezou sua música como “monótona em textura… consistindo principalmente de melodias artificiais e feias” e previu seu sucesso como “não duradouro”. Harold C. Schonberg, em seu livro A Vida dos Grandes Compositores, considerou que a referência “figura entre as mais esnobes e estúpidas jamais encontradas em um livro que supostamente deve ser objetivo”.[1] De fato, não apenas os trabalhos de Rachmaninoff tornaram-se parte do repertório padrão, mas sua popularidade tanto entre músicos quanto entre ouvintes vem, no mínimo, crescendo desde a segunda metade do Século XX, com algumas de suas sinfonias e trabalhos orquestrais,canções e músicas de coral sendo reconhecidas como obras-primas ao lado dos trabalhos para piano, mais populares.

Suas composições incluem, dentre várias outras: quatro concertos para piano; a famosa Rapsódia sobre um tema de Paganini; três sinfonias; duas sonatas para piano; três óperas; uma sinfonia para coral (The Bells, ou Os Sinos, baseado no poema de Edgar Allan Poe); vinte e quatro prelúdios (incluindo o famoso Prelúdio em Dó Sustenido Menor); dezessete études; muitas canções, sendo as mais famosas a V molchanyi nochi taynoi (No Silêncio da Noite), Lilacs e a sem-letra Vocalise; e o último de seus trabalhos, as Danças Sinfônicas. A maioria de suas peças é carregada de melancolia, um estilo romântico tardio lembrando Tchaikovsky, embora apareçam fortes influências de Chopin e Liszt. Inspirações posteriores incluem a música de BalakirevMussorgskyMedtner (o qual ele considerou o maior compositor contemporâneo e que, de acordo com o Lives de Schonberg, retornou ao complemento por imitá-lo) e Henselt.

O episódio traumático em mais detalhes…

Passos iniciais do jovem Rachmaninov (Рахманинов)

Sinfonia No. 1 (Op. 13, 1896) estreou em 27 de março de 1897 junto com uma longa série de “Concertos Sinfônicos Russos”, mas foi deixado de lado pela crítica. Num comentário pitoresco de César Cui, ela foi comparada à descrição das dez pragas do Egito e sugerido que ela seria admirada pelos “inatos” de um conservatório de música no inferno.

(Note-se, César Cui é o único membro do grupo nacionalista de compositores russos conhecido como o Grupo dos Cinco cuja música é raramente executada hoje em dia.)

Tais críticas são geralmente atribuídas à inadequação da performance. A condução de Alexander Glazunov é geralmente lembrada como um problema: ele gostou da peça, mas era um maestro fraco e estava faminto na hora da execução. A esposa de Rachmaninov, mais tarde, sugeriu que Glazunov parecia bêbado e, apesar disto nunca ter sido dito por Rachmaninov, este não parecia alterado. A recepção desastrosa, combinada com a preocupação da objeção da Igreja Ortodoxa contra o casamento com sua prima, Natalia Satina, contribuiu para um colapso mental seguido de um período em depressão.

Ele escreveu pouca música nos anos seguintes, até começar um curso de Terapia Auto-Sugestiva com o psicólogo Nikolai Dahl, que coincidentemente havia sido um músico amador; Rachmaninov rapidamente recuperou sua auto-confiança. Um importante resultado dessas sessões foi a composição do Concerto para Piano No. 2 (Op. 18, 190001), que foi dedicado ao Dr. Dahl. A peça foi bem recebida em sua estréia, na qual o próprio Rachmaninov foi o solista, e continua sendo até os dias de hoje uma de suas composições mais populares.

O espírito de Rachmaninov se acalmou mais tarde quando, após anos de tentativas, ele finalmente conseguiu permissão para se casar com Natalia. Eles se casaram num subúrbio de Moscou, um padre militar realizou a cerimônia em 29 de abril de 1902, e a união durou até a morte do compositor. Após várias apresentações como maestro, foi oferecido a Rachmaninov o cargo de maestro do Teatro Bolshoi em 1904, embora razões políticas o levassem a se resignar em março de 1906, após o que ele foi para a Itália (em Florença e depois em Marina di Pisa) até julho. Ele passou os três invernos seguintes em Dresden, na Alemanha, trabalhando intensivamente como compositor e retornando à familiar Ivanovka apenas nos verões.

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Pintura de Rachmaninov

Rachmaninov morreu em 28 de março de 1943, em Beverly Hills, na Califórnia, apenas alguns dias antes de seu 70º aniversário, e foi enterrado em 1 de junho no cemitério de Kensico, em Valhalla. Nas horas finais de sua vida, ele insistia que podia ouvir música tocando em algum lugar por perto. Após ser repetidamente assegurado de que não era o caso, ele declarou: “então a música está na minha cabeça“.

Curiosidade: o filme Shine de 1996, sobre a vida do pianista David Helfgott, gira em torno do Concerto para Piano No. 3 de Rachmaninoff.

O relato abaixo foi extraído de http://www.brooksidecenter.com/remembering_dr_dahl.htm)

Brookside Center for Counseling and Hypnotherapy

Remembering Dr. Dahl: Hypnosis Saves Rachmaninoff

by Maurice Kouguell, Ph.D., BCETS.

Rachmaninoff, in his memoirs (Rachmaninoff’s Recollections, told to Oskar von Riesemann), tells the story:

My relations had told Dr. Dahl that he must at all costs cure me of my apathetic condition and achieve such results that I would again begin to compose. Dahl asked what manner of composition they desired and had received the answer, ‘A concerto for pianoforte,’ for this I had promised to the people in London and had given it up in despair. Consequently I heard the same hypnotic formula repeated day after day while I lay half asleep in my armchair in Dr. Dahl’s study, ‘You will begin to write your concerto ….You will work with great facility …The concerto will be of excellent quality ….’ It was always the same, without interruption. Although it may sound incredible, this cure really helped me. Already at the start of the summer, I was composing once more. The material accumulated, and new musical ideas began to stir within me – many more than I needed for my concerto. By autumn I had completed two movements (the Andante and the Finale) …These I played that same season at a charity concert conducted by Sikti …. with gratifying success …. By the spring I had finished the first movement (Moderate) …and felt that Dr. Dahl’s treatment had strengthened my nervous system to a miraculous degree. Out of gratitude I dedicated my Second Concerto to him.
Nicolai Dahl,  thank you for touching me.

Nikolai Vladimirovich Dahl (em russo: Николай Владимирович Даль), nascido em 1860, foi um médico russo, especialista em neurologiapsiquiatriapsicologia. Dahl também se interessava por música e era um competente violoncelista amador

César Antonovitch Cui (em russo: Цезарь Антонович Кюи)

(Vilnius18 de Janeiro de 1835 – Petrogrado13 de Março de 1918) foi um compositor ecrítico musical russo de ascendência francesalituana. Foi um compositor extremamente prolífico, escrevendo muitas peças para pianomúsica de câmara, centenas de canções, peças para orquestra e várias óperas.

Cui nasceu em Vilnius. Estudou pianoteoria musical na infância, e entrou na Escola de Engenharia Militar de São Petersburgo, iniciando uma carreira militar. Tornou-se especialista em fortificações. Quando em 1857 conhece Mily Balakirev, passa a dedicar-se seriamente à música, tornando-se membro do Grupo dos Cinco.

Como crítico, Cui escreveu mais de 800 artigos entre 1864 e 1918 (sobretudo na época 1864-1900) para vários jornais e outras publicações na Rússia e resto da Europa. Vários dos artigos foram agrupados tematicamente em monografias: Kol’tso Nibelungov (O Anel do Nibelungo, 1876); A música na Rússia (1880); Russkii romans (O Romance Russo, 1896). Na década de 1860, a sua crítica no jornal são-petersbuguense Vedomosti valeu-lhe a alcunha “niilista musical” devido ao desdém pela antiga música clássica (como a da época de Mozart) e ao seu apelo pela originalidade musical.

Aleksandr Konstantinovitch Glazunov (em russo: Александр Константинович Глазунов, Aleksandr Konstantinovič Glazunovem francêsGlazounov;em alemãoGlasunow); (São Petersburgo10 de agosto de 1865 – Paris21 de março de 1936) foi um importante professor de músicacompositor tardio-romântico russo.

A Era Romântica é um período da história da música que se convenciona classificar entre o ano de 1815 até o início do século XX.

Designa ainda qualquer música escrita durante esse período ou posterior (neorromantismo), que se enquadre na estética do período romântico. Foi precedido pelo classicismo e sucedido pelas tendências modernistas.

A época do romantismo musical coincide com o romantismo na LiteraturaFilosofiaArtes Plásticas.

A ideia geral do romantismo é que a verdade não poderia ser deduzida a partir de axiomas. Certas realidades só poderiam ser captadas através da emoção, do sentimento e da intuição. Por essa razão, a música romântica é caracterizada pela maior flexibilidade das formas musicais e procurando focar mais o sentimento transmitido pela música do que propriamente a estética, ao contrário do Classicismo. No entanto, os gêneros musicais clássicos, tais como a sinfonia e o concerto, continuaram sendo escritos.

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Na foto, em destaque, o Dr. N. Dahl e seu violino durante a execução da peça em sua homenagem

Por Celso Lugão

Especializações em PSICOLOGIA CLÍNICA E HOSPITALAR. Exerce ATIVIDADE CLÍNICA fazem mais de 30 anos, tendo criado sua abordagem particular de PSICOTERAPIA ESTRATÉGICA. Possui MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL PELA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Atualmente é professor do INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UERJ tendo criado o setor de PSICOTERAPIA ESTRATÉGICA NO SPA DA UERJ EM 1988 e desde então atua como SUPERVISOR desta abordagem. Participou de forma intensiva do PROCESSO DE VALIDAÇÃO DA HIPNOSE como TÉCNICA PASSÍVEL DE SER UTILIZADA PELO PSICÓLOGO, fato este reconhecido pela SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPNOSE e pela SOCIEDADE DE HIPNOSE E MEDICINA DO RIO DE JANEIRO. Possui experiência em várias áreas da psicologia, a saber: EPISTEMOLOGIA DAS PSICOTERAPIAS (DESENVOLVIMENTO DE REFERENCIAIS EPISTEMOLÓGICOS E CLÍNICOS; ESTUDO DAS PERSPECTIVAS ESTRATÉGICA, ESTRUTURAL E SISTÊMICA EM RELAÇÃO AO INDIVÍDUO E A FAMÍLIA) ; PSICOLOGIA CLÍNICA E HIPNOLOGIA (TRANSDUÇÃO DA INFORMAÇÃO MENTE-CORPO, PSICOIMUNOLOGIA, TÉCNICAS HIPNÓTICAS, CORPORAIS, PSICODRAMÁTICAS E ESTADOS ALTERADOS DA CONSCIÊNCIA); TANATOLOGIA (MORTE, LUTO E SEPARAÇÕES); PROCESSOS DISSOCIATIVOS (TRAUMA, DISTÚRBIO DISSOCIATIVO DA IDENTIDADE, SÍNDROME DO STRESS PÓS-TRAUMÁTICO, SÍNDROME DO PÂNICO, SUICÍDIO, DROGADICÇÃO, PSICOSES); E ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA SUPERVISÃO (TREINAMENTO, INFORMAÇÃO E FORMAÇÃO ). (Text informed by the author)

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