Como proceder nos casos de abandono da terapia?

      Como proceder nos casos de abandono da terapia nos SPA?

           Conselhos aos supervisandos e aos jovens terapeutas.    dsc01232                                      

Em resposta a indagação acima:

Há uma fila de gente querendo terapia, então dêem consciência ao cliente sobre isto, se quiser ele poderá voltar um dia… Para o fim da fila no caso do SPA, rssss! … E talvez você já não esteja mais lá.

Informem isto para o cliente ter ciência.

Sempre que possível usem o humor para temperar a mensagem. 

Para cada cliente esta mensagem é colocada de uma forma mais ou menos intensa ou dramática, isto é o tato humano, é a experiência que ditará a forma certa.

 Nunca se deve ser agressivo, ou desrespeitar os limites do cliente.

Estes limites também se percebem com a prática. Esqueçam terapia, pensem que vocês sabem que com algumas pessoas podem ser mais duros, e com outras não. Com algumas posso brincar, com outras não. Vivendo e aprendendo, é assim que se faz. Jamais intimidem  o cliente e tratem  a dignidade dele como a alma dele, muita compaixão e… Nem ousem arranhar a dignidade. 

Muitas pessoas pensam que  conhecem a fundo as outras, tirando o proctologista isto raramente acontece. Vejam meu exemplo…

É muito raro a garotada de PGE I, que me vê ali brincando e lecionando, imaginar que para estar ali há um trabalho incansável dia e noite, os e-mail, para clientes e estagiários são uma prova de uma pequena parte de tudo que acontece no meu dia a dia.

Sem malhar ninguém entra em forma física e ponto, salvo o Paulo Autran, que tinha um físico invejável e dizia que não fazia nada, era pura genética, dizia ele. 

Portanto algumas pessoas não têm a dimensão do trabalho extra que causam quando decidem algumas coisas sem pensar no sistema e nos que estão envolvidos. Cuidam de si e não trocam nada, só querem mais e mais. Este aspecto do ser humano para os xamãs é tão antigo e importante para a raça humana que poderíamos ilustrar este tema com aquele título de livro…

O lado sombrio dos buscadores de luz… (Colei um texto sobre isto no final).

Não tenho tempo p/ explicar isto agora, mas resumindo trata-se das transmutações da psicologia da evolução possível do homem, como diria Ouspenski. Piorou, não?

(Lá embaixo colei um texto sobre isto também.)

jack-nicholson 

Bom, você faz o que pode. Tenta, mas se o cliente quer parar não tem jeito.

Envie-lhe recursos e faça o fechamento do caso.

 Teçam as considerações e conclusões finais e anexem… Ou então, guardem  se acharem que o assunto tornou-se confidencial, íntimo demais…

Refiro-me aos sentimentos e pensamentos do terapeuta/supervisando.

Mesmo que não ponhas no papel examine a situação e o teu ser.

Como reages a isto?

Irás descontar nos próximos clientes?

Ou quem sabe no próprio SPA, no estágio, no supervisor, no namorado?

Não é tão simples assim; quem  pensa que é está enganado, e é aí que é preciso se pesquisar, no lado sombrio dos buscadores de luz. Captaram?

São as tais questões transferenciais e contra-transferenciais que o sábio S. Freud informou. 

Mas as sessões devem ser finalizadas e o caso arquivado.  

 

Um abraço. 

Lugão

o-lado-sombrio-dos-buscadores-de-luzSeguem comentários da Internet sobre esta obra:

 

 

 

Reconhecendo a “sombra” dentro de nós, somos capazes de liberá-la de forma muito mais rápida e eficiente, passando a sentir paz e alegria indescritíveis! Isso nos possibilita viver um ano realmente novo, livre dos velhos padrões limitativos que tanto sofrimento nos trazem.

 

 

 

Todos nós nascemos emocionalmente saudáveis. Nos amamos e nos aceitamos, sem julgar sobre quais são nossas partes boas ou ruins. Nosso ser está íntegro, vive o momento e manifesta livremente o “Eu”. Ao crescermos, começamos a aprender com as pessoas à nossa volta que nos dizem como agir, quando comer, quando dormir, e começamos a fazer distinções, Percebemos quais são os comportamentos que nos garantem aceitação e quais os que provocam rejeição. Com isso, passamos a confiar ou odiar àqueles que nos rodeiam, de acordo com essas respostas. Tudo isso nos desvia da possibilidade de viver o agora e impede que nos expressemos espontaneamente.

Aprendemos que o amor é uma expressão apenas da compaixão e da generosidade. Mas não é bem assim. O amor se representa também pelos sentimentos da raiva, do ódio, do desejo, do ciúme, da dissimulação, da vingança. C. G. Jung disse:“Prefiro sentir-me inteiro do que ser bom”.
 

bujerba

 

Conforme prometido o Ashram de Dine é um gênio… Ótima imagem para a resiliência de todos nós terapeutas… Obrigado por compartilhar.

Que a energia e a força estejam conosco!

Paz, saúde e vida longa.

 

 

 ouspensky-livroPsicologia da evolução possivel ao homem P. D. Ouspensky – Abrange o texto das conferências psicológicas de Ouspensky, lidas a partir de 1934 para todos grupos novos, de cerca de quarenta pessoas, formados para estudar o “Sistema”.

Ouspenski: Psicologia da Evolução possível ao Homem (1ª Conferência)

Vou falar do estudo da psicologia, mas devo preveni-los de que a psicologia a que me refiro é muito diferente do que possam conhecer por esse nome.

Antes de tudo, devo dizer que nunca, no curso da história, a psicologia se encontrou em nível tão baixo. Perdeu todo contato com sua origem e todo o seu sentido, a tal ponto que hoje é difícil definir o termo “psicologia”, isto é, precisar o que é a psicologia e o que ela estuda. E isto, apesar de, no curso da história, jamais se ter visto tantas teorias psicológicas nem tantos livros sobre psicologia.

A psicologia é, às vezes, chamada uma ciência nova. Nada mais falso. Ela é, talvez, a ciência mais antiga; infelizmente, em seus aspectos essenciais, é uma ciência esquecida.

Como definir a psicologia? Para compreender isso, é preciso dar-se conta de que, exceto nos tempos modernos, a psicologia jamais existiu com seu próprio nome. Por vários motivos, sempre foi suspeita de apresentar tendências falsas e subversivas, de caráter religioso, político ou moral, e sempre teve que se ocultar sob diferentes disfarces.

Durante milênios, a psicologia existiu com o nome de filosofia. Na Índia, todas as formas de Ioga, que são essencialmente psicologia, são descritas como um dos seis sistemas de filosofia. Os ensinamentos sufis, que são, antes de tudo, de ordem psicológica, são considerados em parte religiosos, em parte metafísicos. Na Europa, até pouco tampo atrás, nos últimos anos do século XIX, muitas obras de psicologia eram citadas como obras de “filosofia”. E embora quase todas as subdivisões da filosofia, tais como a lógica, a teoria do conhecimento, a ética e a estética, refiram-se ao trabalho do pensamento humano ou ao dos sentidos, considerava-se a psicologia inferior à filosofia e relacionada somente com os aspectos mais baixos ou mais triviais da natureza humana.

Ao mesmo tempo que subsistia com o nome de filosofia, a psicologia permaneceu por mais tempo ainda associada a uma ou outra religião. Isso não significa que religião e psicologia jamais tenham sido uma única e mesma coisa, nem que a relação entre religião e psicologia tenha sido sempre reconhecida. Mas não há dúvida de que quase todas as religiões conhecidas – evidentemente não falo das pseudo-religiões modernas – desenvolveram esta ou aquela espécie de ensinamento psicológico, acompanhado, muitas vezes, de certa prática, de modo que freqüentemente o estudo da religião comportava, já por si mesmo, o da psicologia.

Na literatura religiosa mais ortodoxa de diferentes países e diversas épocas encontram-se excelentes obras sobre psicologia. Por exemplo, esta compilação de autores que datam dos primeiros tempos do cristianismo e que se conhece pelo título geral de Philokalia, livros que ainda hoje estão em uso na igreja oriental, onde são reservados principalmente para a instrução dos monges.

No tempo em que a psicologia estava ligada à filosofia e à religião, ela existia também sob a forma de Arte. Poesia, Tragédia, Escultura, Dança, a própria Arquitetura, eram meios de transmissão do conhecimento psicológico. Certas catedrais góticas, por exemplo, eram essencialmente tratados de psicologia.

Na antiguidade, antes que a filosofia, a religião e a arte adotassem as formas independentes sob as quais as conhecemos hoje, a psicologia encontrava sua expressão nos Mistérios, tais como os do Egito e da Grécia antiga.

Mais tarde, desaparecidos os Mistérios, a psicologia sobreviveu a eles sob a forma de ensinamentos simbólicos, que ora se encontravam ligados à religião da época, ora não, tais como a Astrologia, a Alquimia, a Magia e, entre os mais modernos, a Maçonaria, o Ocultismo e a Teosofia.

Aqui é indispensável observar que todos os sistemas e doutrinas psicológicos, tanto os que existiram ou existem abertamente, como aqueles que permaneceram ocultos ou disfarçados, podem dividir-se em duas categorias principais.

Primeira: as doutrinas que estudam o homem tal como o encontram ou tal como o supõem ou imaginam. A “psicologia científica” moderna, ou o que se conhece por esse nome, pertence a essa categoria.

Segunda: as doutrinas que estudam o homem não do ponto de vista do que ele é ou parece ser, mas do ponto de vista do que ele pode chegar a ser, ou seja, do ponto de vista de sua evolução possível.

Estas últimas são, na realidade, as doutrinas originais ou, em todo caso, as mais antigas e as únicas que podem fazer compreender a origem esquecida da psicologia e sua significação.

Quanto tivermos reconhecido como é importante, no estudo do homem, o ponto de vista de sua evolução possível, compreenderemos que a primeira resposta à pergunta: o que é psicologia? deveria ser: psicologia é o estudo dos princípios, leis e fatos relativos à evolução possível do homem.

Nestas conferências, colocar-me-ei exclusivamente em tal ponto de vista. Nossa primeira pergunta será: o que significa a evolução do homem? E a segunda: ela exige condições especiais?

Devo dizer, antes de tudo, que não poderíamos aceitar as concepções modernas sobre a origem do homem e sua evolução passada. Devemos dar-nos conta de que nada sabemos sobre essa origem e de que carecemos de qualquer prova de uma evolução física ou mental do homem.

Muito ao contrário, se tomarmos a humanidade histórica, isto é, a dos dez ou quinze mil últimos anos, podemos encontrar sinais inconfundíveis de um tipo superior de humanidade, cuja presença pode ser demonstrada por múltiplos testemunhos e monumentos da antiguidade, os quais os homens atuais seriam incapazes de recriar ou imitar.

Quanto ao “homem pré-histórico”, ou a essas criaturas de aspecto semelhante ao homem e, todavia, tão diferentes dele, cujos ossos se encontram, às vezes, em depósitos do período glacial ou pré-glacial, podemos aceitar a idéia muito plausível de que essas ossadas pertenciam a um ser bem distinto do homem, desaparecido há muito tempo.

Ao negar a evolução passada do homem, devemos recusar-lhe toda possibilidade de uma evolução mecânica futura, isto é, de uma evolução que se operaria por si só, segundo as leis da hereditariedade e da seleção, sem esforços conscientes por parte do homem e sem que este tenha compreendido sequer a possibilidade de sua evolução.

Nossa idéia fundamental é a de que o homem, tal qual o conhecemos, não é um ser acabado. A natureza o desenvolve até certo ponto e logo o abandona., deixando-o prosseguir em seu desenvolvimento por seus próprios esforços e sua própria iniciativa, ou viver e morrer tal como nasceu, ou, ainda, degenerar e perder a capacidade de desenvolvimento.

No primeiro caso, a evolução do homem significará o desenvolvimento de certas qualidades e características interiores que habitualmente permanecem embrionárias e que não podem se desenvolver por si mesmas.

A experiência e a observação mostram que esse desenvolvimento só é possível em condições bem definidas, que exige esforços especiais por parte do próprio homem, e uma ajuda suficiente por parte daqueles que, antes dele, empreenderam um trabalho da mesma ordem e chegaram a um certo grau de desenvolvimento ou, pelo menos, a um certo conhecimento dos métodos.

Devemos partir da idéia de que sem esforços a evolução é impossível e de que, sem ajuda, é igualmente impossível.

Depois disso, devemos compreender que, no caminho do desenvolvimento, o homem deve tornar-se um ser diferente e devemos estudar e conceber de que modo e em que direção deve o homem converter-se num ser diferente, isto é, o que significa um ser diferente.

Depois, devemos compreender que nem todos os homens podem desenvolver-se e tornar-se seres diferentes. A evolução é questão de esforços pessoais e, em relação à massa da humanidade, continua a ser exceção rara. Isso talvez possa parecer estranho, mas devemos dar-nos conta não só de que a evolução é rara, mas também que se torna cada vez mais rara.

Isso, naturalmente, provoca numerosas perguntas:

Que significa esta frase: “No caminho da evolução o homem deve tornar-se um ser diferente”?

O que quer dizer “um ser diferente”?

Quais são essas qualidades e características interiores que podem ser desenvolvidas no homem e como chegar até elas?

Por que nem todos os homens podem desenvolver-se e tornar-se seres diferentes? Por que semelhante injustiça?

Tentarei responder a essas perguntas, começando pela última.

Por que nem todos os homens podem desenvolver-se e tornar-se seres diferentes?

A resposta é muito simples. Porque não o desejam. Porque nada sabem a respeito e ainda que se lhes diga, não o compreenderão antes de uma longa preparação.

A idéia essencial é que, para tornar-se um ser diferente, o homem deve desejá-lo intensamente e por muito tempo. Um desejo passageiro ou vago, nascido de uma insatisfação no que diz respeito às condições exteriores, não criará um impulso suficiente.

the-first-mergerA evolução do homem depende de sua compreensão do que pode adquirir e do que deve dar para isso.

Se o homem não o desejar, ou não o desejar com bastante intensidade e não fizer os esforços necessários, jamais se desenvolverá. Não há, pois, injustiça alguma nisso. Por que haveria de ter o homem o que não deseja? Se o homem fosse forçado a tornar-se um ser diferente, quando está satisfeito com o que é, aí sim, haveria injustiça.

Perguntemo-nos, agora, o que significa um ser diferente. Se examinarmos todos os dados que podemos reunir sobre essa questão, encontraremos sempre a afirmação de que, ao tornar-se um ser diferente, o homem adquire numerosas qualidades novas que antes não possuía. Essa afirmação é comum a todas as doutrinas que admitem a idéia de um crescimento interior do homem.
Isso, porém, não basta. As descrições, ainda que as mais detalhadas, desses novos poderes não nos ajudarão de modo algum a compreender como aparecem nem de onde vêm.

Falta um elo nas teorias geralmente admitidas, mesmo naquelas de que acabo de falar e que têm por base a idéia da possibilidade de uma evolução do homem.

A verdade é que antes de adquirir novas faculdades ou novos poderes, que não conhece e ainda não possui, o homem deve adquirir faculdades e poderes que tampouco possui, mas que se atribui, isto é, que crê conhecer e crê ser capaz de usar e de usar até com maestria.

Esse é o “elo que falta”, e aí está o ponto de maior importância.

No caminho da evolução, definido como um caminho baseado no esforço e na ajuda, o homem deve adquirir qualidades que crê já possuir, mas sobre as quais se ilude.

Para compreender isso melhor, para saber que faculdades novas, que poderes insuspeitados pode o homem adquirir e quais são aqueles que imagina possuir, devemos partir da idéia geral que o homem tem de si mesmo.

E encontramo-nos, de imediato, ante um fato importante.

O homem não se conhece.

Não conhece nem os próprios limites, nem suas possibilidades. Não conhece sequer até que ponto não se conhece.

O homem inventou numerosas máquinas e sabe que, às vezes, são necessários anos de sérios estudos para poder servir-se de uma máquina complicada ou para controlá-la. Mas, quando se trata de si mesmo, ele esquece esse fato, ainda que ele próprio seja uma máquina muito mais complicada do que todas aquelas que inventou.

Está cheio de idéias falsas sobre si mesmo.

Antes de tudo, não se dá conta de que ele é realmente uma máquina.
O que quer dizer: “O homem é uma máquina”?

Quer dizer que não tem movimentos independentes, seja interior, seja exteriormente. É uma máquina posta em movimento por influências exteriores e choques exteriores. Todos os seus movimentos, ações, palavras, idéias, emoções, humores e pensamentos são provocados por influências exteriores. Por si mesmo, é tão-somente um autômato com certa provisão de lembranças de experiências anteriores e certo potencial de energia em reserva.

Devemos compreender que o homem não pode fazer nada.

O homem, porém não se apercebe disso e se atribui a capacidade de fazer. É o primeiro dos falsos poderes que se arroga.

Isso deve ser compreendido com toda a clareza. O homem não pode fazer nada. Tudo o que crê fazer, na realidade, acontece. Isso acontece exatamente como “chove”, “neva” ou “venta”.

Infelizmente, não há em nosso idioma verbos impessoais que possam ser aplicados aos atos humanos. Devemos, pois, continuar a dizer que o homem pensa, lê, escreve, ama, detesta, empreende guerras, combate, etc. Na realidade, tudo isso acontece.

O homem não pode pensar, falar nem mover-se como quer. É uma marionete, puxada para cá e para lá por fios invisíveis. Se compreender isso, poderá aprender mais coisas sobre si mesmo e talvez, então, tudo comece a mudar para ele.

Mas, se não puder admitir nem compreender sua profunda mecanicidade, ou não quiser aceitá-la como um fato, não poderá aprender mais nada e as coisas não poderão mudar para ele.

O homem é uma máquina, mas uma máquina muito singular. Pois, se as circunstâncias se prestarem a isso, e se bem dirigida, essa máquina poderá saber que é uma máquina. E se der-se conta disso plenamente, ela poderá encontrar os meios para deixar de ser máquina.

Antes de tudo, o homem deve saber que ele não é um, mas múltiplo. Não tem um Eu único, permanente e imutável. Muda continuamente. Num momento é uma pessoa, no momento seguinte outra, pouco depois uma terceira e sempre assim, quase indefinidamente.

O que cria no homem a ilusão da própria unidade ou da própria integralidade é, por um lado, a sensação que ele tem de seu corpo físico; por outro, seu nome, que em geral não muda e, por último, certo número de hábitos mecânicos implantados nele pela educação ou adquiridos por imitação. Tendo sempre as mesmas sensações físicas, ouvindo sempre ser chamado pelo mesmo nome e, encontrando em si hábitos e inclinações que sempre conheceu, imagina permanecer o mesmo.

Na realidade não existe unidade no homem, não existe um centro único de comando, nem um “Eu”, ou ego, permanente.

Eis aqui um esquema geral do homem:

Cada pensamento, cada sentimento, cada sensação, cada desejo, cada “eu gosto” ou “eu não gosto”, é um “eu”. Esses “eus” não estão ligados entre si, nem coordenados de modo algum. Cada um deles depende das mudanças de circunstâncias exteriores e das mudanças de impressões.

Tal “eu” desencadeia mecanicamente toda uma série de outros “eus”. Alguns andam sempre em companhia de outros. Não existe aí, porém, nem ordem nem sistema.

Alguns grupos de “eus” têm vínculos naturais entre si. Falaremos desses grupos mais adiante. Por enquanto, devemos tratar de compreender que as ligações de certos grupos de “eus” constituem-se unicamente de associações acidentais, recordações fortuitas ou semelhanças complementares imaginárias.

Cada um desses “eus” não representa, em dado momento, mais que uma ínfima parte de nossas funções, porém cada um deles crê representar o todo. Quando o homem diz “eu”, tem-se a impressão de que fala de si em sua totalidade, mas, na realidade, mesmo quando crê que isso é assim, é só um pensamento passageiro, um humor passageiro ou um desejo passageiro. Uma hora mais tarde, pode tê-lo esquecido completamente e expressar, com a mesma convicção, opinião, ponto de vista ou interesses opostos. O pior é que o homem não se lembra disso. Na maioria dos casos, dá crédito ao último “eu” que falou, enquanto este permanece, ou seja, enquanto um novo “eu” – às vezes sem conexão alguma com o precedente – ainda não tenha expressado com mais força sua opinião ou seu desejo.

E agora, voltemos às outras perguntas.

O que se deve entender por “desenvolvimento”? E o que quer dizer tornar-se um ser diferente? Em outras palavras, qual é a espécie de mudança possível ao homem? Quando e como se inicia essa mudança?

Já dissemos que a mudança deve começar pela aquisição desses poderes e capacidades que o homem se atribui, mas que, na realidade, não possui.

Isso significa que, antes de adquirir qualquer poder novo ou qualquer capacidade nova, o homem deve desenvolver nele as qualidades que crê possuir e sobre as quais ele cria para si as maiores ilusões.

O desenvolvimento não pode se basear na mentira a si mesmo, nem no enganar-se a si mesmo. O homem deve saber o que é seu e o que não é seu. Deve dar-se conta de que não possui as qualidades que se atribui: a capacidade de fazer, a individualidade ou a unidade, o Ego permanente, bem como a consciência e a vontade.

E é necessário que o homem saiba disso, pois enquanto imaginar possuir essas qualidades, não fará os esforços necessários para adquiri-las, da mesma maneira que um homem não comprará objetos preciosos, nem estará disposto a pagar um preço elevado por eles, se acreditar que já os possui.

A mais importante e a mais enganosa dessas qualidades é a consciência. E a mudança no homem começa por uma mudança em sua maneira de compreender a significação da consciência e continua com a aquisição gradual de um domínio da consciência.

alles-wird-gutO que é a consciência?

Na linguagem comum, a palavra “consciência” é quase sempre empregada como equivalente da palavra “inteligência”, no sentido de atividade mental.

Na realidade, a consciência no homem é uma espécie muito particular de “tomada de conhecimento interior” independente de sua atividade mental – é antes de tudo, tomada de consciência de si mesmo, conhecimento de quem ele é, de onde está e, a seguir, conhecimento do que sabe, do que não sabe, e assim por diante.

Só a própria pessoa é capaz de saber se está consciente ou não em dado momento. Certa corrente de pensamento da psicologia européia provou, aliás, há muito tempo, que só o próprio homem pode conhecer certas coisas sobre si mesmo.

Só o próprio homem, pois, é capaz de saber se a sua consciência existe ou não, em dado momento. Assim, a presença ou a ausência de consciência no homem não pode ser provada pela observação de seus atos exteriores. Como acabo de dizer, esse fato foi estabelecido há muito, mas nunca se compreendeu realmente sua importância, porque essa idéia sempre esteve ligada a uma compreensão da consciência como atividade ou processo mental.

O homem pode dar-se conta, por um instante, de que, antes desse mesmo instante, não estava consciente; depois, esquecerá essa experiência e, ainda que a recorde, isso não será a consciência. Será apenas a lembrança de uma forte experiência.

Quero, agora, chamar-lhes a atenção para outro fato perdido de vista por todas as escolas modernas de psicologia.

É o fato de que a consciência no homem jamais é permanente, seja qual for o modo como é encarada. Ela está presente ou está ausente. Os momentos de consciência mais elevados criam a memória. Os outros momentos, o homem simplesmente os esquece. É justamente isso que lhe dá, mais que qualquer outra coisa, a ilusão de consciência contínua ou de “percepção de si” contínua.

Algumas modernas escolas de psicologia negam inteiramente a consciência, negam até a utilidade de tal termo; isso, porém, não passa de paroxismos de incompreensão.

Outras escolas, se é possível chamá-las assim, falam de “estados de consciência”, quando se referem a pensamentos, sentimentos, impulsos motores e sensações. Tudo isso tem como base o erro fundamental de se confundir consciência com funções psíquicas. Falaremos disso mais adiante.

Na realidade, o pensamento moderno, na maioria dos casos, continua a crer que a consciência não possui graus. A aceitação geral, ainda que tácita, dessa idéia, embora em contradição com numerosas descobertas recentes, tornou impossível muitas observações sobre as variações da consciência.

O fato é que a consciência tem graus bem visíveis e observáveis, em todo caso visíveis e observáveis por cada um em si mesmo.

Primeiro, há o critério da duração: quanto tempo se permaneceu consciente?

Segundo, o da freqüência: quantas vezes se tornou consciente?

Terceiro, o da amplitude e da penetração: do que se estava consciente? Pois isso pode variar muito com o crescimento interior do homem.

Se considerarmos apenas os dois primeiros desses três pontos, poderemos compreender a idéia de uma evolução possível da consciência. Essa idéia está liga a um fato essencial, perfeitamente conhecido pelas antigas escolas psicológicas, tais como a dos autores da Philokalia, porém completamente ignorado pela filosofia e pela psicologia européias dos dois ou três últimos séculos.

É o fato de que, por meio de esforços especiais e de um estudo especial, a pessoa pode tornar a consciência contínua e controlável.

Tentarei explicar como a consciência pode ser estudada. Tome um relógio e olhe o ponteiro grande, tentando manter a percepção de si mesmo e concentrar-se no pensamento “eu sou Peter Ouspensky”, por exemplo, “eu estou aqui neste momento”. Tente pensar apenas nisso, siga simplesmente o movimento do ponteiro grande, permanecendo consciente de si mesmo, de seu nome, de sua existência e do lugar em que você está. Afaste qualquer outro pensamento.

Se for perseverante, poderá fazer isso durante dois minutos. Tal é o limite da sua consciência. E se tentar repetir a experiência logo a seguir, irá achá-la mais difícil que da primeira vez.

Essa experiência mostra que um homem, em seu estado normal, pode, mediante grande esforço, ser consciente de uma coisa (ele mesmo) no máximo durante dois minutos.

A dedução mais importante que se pode tirar dessa experiência, se realizada corretamente, é que o homem não é consciente de si mesmo. Sua ilusão de ser consciente de si mesmo é criada pela memória e pelos processos do pensamento.

Por exemplo, um homem vai ao teatro. Se tem esse hábito, não tem consciência especial de estar ali enquanto está. E, não obstante, pode ver e observar; o espetáculo pode interessá-lo ou aborrecer-lhe; pode lembrar-se do espetáculo, lembrar-se das pessoas com quem se encontrou, e assim por diante.

De volta à casa, lembra-se de haver estado no teatro e, naturalmente, pensa ter estado consciente enquanto lá se encontrava.

De forma que não tem dúvida alguma quanto à sua consciência e não se dá conta de que sua consciência pode estar totalmente ausente, mesmo quando ele ainda age de modo razoável, pensa e observa.

De maneira geral, o homem pode conhecer quatro estados de consciência, que são: o sono, o estado de vigília, a consciência de si e a consciência objetiva.

Mesmo tendo a possibilidade de conhecer esses quatro estados de consciência, o homem só vive, de fato, em dois desses estados: uma parte de sua vida transcorre no sono e a outra, no que se chama “estado de vigília”, embora, na realidade, esse último difira muito pouco do sono.

Na vida comum o homem nada sabe da “consciência objetiva” e não pode ter nenhuma experiência dessa ordem. O homem se atribui o terceiro estado de consciência, ou “consciência de si”, e crê possuí-lo, embora, na realidade, só seja consciente de si mesmo por lampejos, aliás, muito raros; e, mesmo nesses momentos, é pouco provável que reconheça esse estado, dado que ignora o que implicaria o fato de realmente possuí-lo.
Esses vislumbres de consciência ocorrem em momentos excepcionais, em momentos de perigo, em estados de intensa emoção, em circunstâncias e situações novas e inesperadas; ou também, às vezes, em momentos bem simples onde nada de particular ocorre. Em seu estado ordinário ou “normal”, porém, o homem não tem qualquer controle sobre tais momentos de consciência.

Quanto à nossa memória ordinária ou aos nossos momentos de memória, na realidade, nós só nos recordamos de nossos momentos de consciência, embora não saibamos que isso é assim.

O que significa a memória no sentido técnico da palavra – todas as diferentes espécies de memória que possuímos – explicá-lo-ei mais adiante. Hoje, só desejo atrair sua atenção para as observações que tenham podido fazer a respeito de sua memória. Notarão que não se recordam das coisas sempre da mesma maneira. Algumas coisas são recordadas de forma muito viva, outras permanecem vagas e existem aquelas de que não se recordam em absoluto. Sabem apenas que aconteceram.

Ficarão muito surpresos quando constatarem como se recordam de pouca coisa. E é assim, porque só se recordam dos momentos em que estiveram conscientes.

Assim, para voltar a esse terceiro estado de consciência, podemos dizer que o homem tem momentos fortuitos de consciência de si, que deixam viva lembrança das circunstâncias em que eles ocorreram. O homem, entretanto, não tem nenhum poder sobre tais momentos. Aparecem e desaparecem por si mesmos, sob a ação de condições exteriores, de associações acidentais ou de lembranças de emoções.

Surge esta pergunta: é possível adquirir o domínio desses momentos fugazes de consciência, evocá-los mais freqüentemente, mantê-los por mais tempo ou, até, torná-los permanentes?

Em outros termos, é possível tornar-se consciente? Esse é o ponto essencial e é preciso compreender, desde o início do nosso estudo, que esse ponto escapou completamente, até em teoria, a todas as escolas modernas de psicologia, sem exceção.

De fato, por meio de métodos adequados e esforços apropriados, o homem pode adquirir o controle da consciência, pode tornar-se consciente de si mesmo, com tudo o que isso implica. Entretanto, o que isso implica não podemos sequer imaginá-lo em nosso estado atual.

Só depois de bem compreendido esse ponto, é possível empreender um estudo sério da psicologia.

Esse estudo deve começar pelo exame dos obstáculos à consciência em nós mesmos, porquanto a consciência só pode começar a crescer quando pelo menos alguns desses obstáculos forem afastados.

Nas conferências seguintes, falarei desses obstáculos. O maior deles é nossa ignorância de nós mesmos e nossa convicção ilusória de nos conhecermos, pelo menos até certo ponto, e de podermos contar conosco mesmos, quando, na realidade, não nos conhecemos em absoluto e de modo algum podemos contar conosco, nem sequer nas menores coisas.

Devemos compreender agora que “psicologia” significa verdadeiramente o estudo de si. Esta é a segunda definição de psicologia.

Não se pode estudar a psicologia como se estuda a astronomia, quer dizer, fora de si próprio.

Ao mesmo tempo, uma pessoa deve estudar-se como estudaria qualquer máquina nova e complicada. É necessário conhecer as peças dessa máquina, suas funções principais, as condições para um trabalho correto, as causas de um trabalho defeituoso e uma porção de outras coisas difíceis de descrever sem uma linguagem especial que, aliás, é indispensável conhecer para ficar em condições de estudar a máquina.

A máquina humana tem sete funções diferentes:

1ª) O pensamento (ou o intelecto).

2ª) O sentimento (ou as emoções).

3ª) A função instintiva (todo o trabalho interno do organismo).

4ª) A função motora (todo o trabalho externo do organismo, o movimento no espaço, etc.).

5ª) O sexo (função dos dois princípios, masculino e feminino, em todas as suas manifestações).

Além dessas cinco funções, existem duas outras para as quais a linguagem corrente não tem nome e que aparecem somente nos estados superiores de consciência: uma, a função emocional superior, que aparece no estado de consciência de si, e outra, a função intelectual superior, que aparece no estado de consciência objetiva. Como não estamos nesses estados de consciência, não podemos estudar essas funções nem experimentá-las; só conhecemos sua existência de modo indireto, por meio daqueles que passaram por essa experiência.

Na antiga literatura religiosa e filosófica de diferentes povos, encontram-se múltiplas alusões aos estados superiores de consciência e às funções superiores de consciência. É tanto mais difícil compreender essas alusões porque não fazemos nenhuma distinção entre os estados superiores de consciência. O que chamamos samadhi, estado de êxtase, iluminação ou, em obras mais recentes, “consciência cósmica”, pode referir-se ora a um, ora a outro – às vezes a experiências de consciência de si, às vezes a experiências de consciência objetiva. E, por estranho que possa parecer, temos mais material para avaliar o mais elevado desses estados, a consciência objetiva, do que para aquilatar o estado intermediário, a consciência de si, embora o primeiro só possa ser alcançado depois desse último.

Deve o estudo de si começar pelo estudo das quatro primeiras funções: intelectual, emocional, instintiva e motora. A função sexual só pode ser estudada muito mais tarde, depois de essas quatro funções terem sido suficientemente compreendidas.

Ao contrário do que afirmam certas teorias modernas, a função sexual vem realmente depois das outras, quer dizer, aparece mais tarde na vida, quando as quatro primeiras funções já se tiverem manifestado plenamente: está condicionada por elas. Por conseguinte, o estudo da função sexual será útil, apenas quando as quatro primeiras funções forem conhecidas em todas as suas manifestações. Ao mesmo tempo, é preciso compreender bem que qualquer irregularidade ou anomalia séria na função sexual torna impossível o desenvolvimento de si e, até, o estudo de si.

Tratemos, agora, de compreender as quatro primeiras funções.

O que entendo por “função intelectual” ou “função do pensamento”, suponho que seja claro para vocês. Nela estão compreendidos todos os processos mentais: percepção de impressões, formação de representações e conceitos, raciocínio, comparação, afirmação, negação, formação de palavras, linguagem, imaginação, e assim por diante.

A segunda função é o sentimento ou as emoções: alegria, tristeza, medo, surpresa, etc. Ainda que estejam seguros de bem compreender como e em que as emoções diferem dos pensamentos, aconselhá-los-ia a rever todas as suas idéias a esse respeito. Confundimos pensamentos e sentimentos em nossas maneiras habituais de ver e de falar. Entretanto, para começar a estudar-se a si mesmo, é necessário estabelecer claramente a diferença entre eles.

As duas funções seguintes, instintiva e motora, reter-nos-ão por mais tempo, pois nenhum sistema de psicologia comum distingue nem descreve corretamente essas duas funções.

As palavras “instinto” e “instintivo” são empregadas geralmente num sentido errôneo e, freqüentemente, sem sentido algum. Em particular, atribui-se ao instinto manifestações exteriores que são, na realidade, de ordem motora e, às vezes, emocional.

A função instintiva, no homem, compreende quatro espécies de funções:

1ª) Todo o trabalho interno do organismo, toda a fisiologia por assim dizer: a digestão e a assimilação do alimento, a respiração e a circulação do sangue, todo o trabalho dos órgãos internos, a construção de novas células, a eliminação de detritos, o trabalho das glândulas endócrinas, e assim por diante.

2ª) Os “cinco sentidos”, como são chamados: a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato; e todos os demais, como o sentido de peso, de temperatura, de secura ou de umidade, etc., ou seja, todas as sensações indiferentes, sensações que não são, por si mesmas, nem agradáveis nem desagradáveis.

3ª) Todas as emoções físicas, quer dizer, todas as sensações físicas que são agradáveis ou desagradáveis; todas as espécies de dor ou de sensações desagradáveis, por exemplo, um sabor ou um odor desagradável, e todas as espécies de prazer físico, como os sabores e os odores agradáveis, e assim por diante.

4ª) Todos os reflexos, até os mais complicados, tais como o riso e o bocejo; todas as espécies de memória física, tais como a memória do gosto, do olfato, da dor, que são, na realidade, reflexos internos.

A função motora compreende todos os movimentos exteriores, tais como caminhar, escrever, falar, comer, e as lembranças que disso restam. À função motora pertencem também movimentos que a linguagem corrente qualifica de “instintivos”, como o de aparar um objeto que cai, sem pensar nisso.

A diferença entre a função instintiva e a função motora é muito clara e fácil de compreender; basta recordar que todas as funções instintivas, sem exceção, são inatas e não é necessário aprendê-las para utilizá-las; ao passo que nenhuma das funções de movimento é inata e é necessário aprendê-las todas; assim, a criança aprende a nadar, aprendemos a escrever ou a desenhar.

Além dessas funções motoras normais, existem ainda estranhas funções de movimento, que representam o trabalho inútil da máquina humana, trabalho não previsto pela natureza, mas que ocupa um vasto lugar na vida do homem e consome grande quantidade de sua energia. São: a formação dos sonhos, a imaginação, o devaneio, o falar consigo mesmo, o falar por falar e, de maneira geral, as manifestações incontroladas e incontroláveis.

As quatro funções – intelectual, emocional, instintiva e motora – devem, antes de tudo, ser compreendidas em todas as suas manifestações: depois, é preciso observá-las em si mesmo. Essa observação de si, que deve ser feita a partir de dados corretos, com prévia compreensão dos estados de consciência e das diferentes funções, constitui a base do estudo de si, isto é, o início da psicologia.

É muito importante recordar que, enquanto observamos as diferentes funções, cumpre observar ao mesmo tempo sua relação com os diferentes estados de consciência.

Tomemos os três estados de consciência – sono, estado de vigília, lampejos de consciência de si – e as quatro funções: pensamento, sentimento, instinto e movimento.

Essas quatro funções podem manifestar-se no sono, mas suas manifestações são então desconexas e destituídas de qualquer fundamento. Não podem ser utilizadas de maneira alguma; funcionam automaticamente.

No estado de consciência de vigília ou de consciência relativa, elas podem, até certo ponto, servir para nossa orientação. Seus resultados podem ser comparados, verificados, retificados e, embora possam criar numerosas ilusões, só contamos no entanto com elas em nosso estado ordinário e devemos usá-las na medida em que podemos. Se conhecêssemos a quantidade de observações falsas, de falsas teorias, de falsas deduções e conclusões feitas nesse estado, cessaríamos completamente de crer em nós mesmos. Entretanto, os homens não se dão conta de quanto as suas observações e teorias podem ser enganadoras e continuam a crer nelas. E é isso o que impede os homens de observarem os raros momentos em que suas funções se manifestam sob o efeito dos lampejos do terceiro estado de consciência, ou seja, da consciência de si.

Tudo isso significa que cada uma das quatro funções pode manifestar-se em cada um dos três estados de consciência. Os resultados, todavia, diferem inteiramente..

Quando aprendermos a observar esses resultados e a diferença entre eles, compreenderemos a relação correta entre as funções e os estados de consciência.

Mas, antes de considerar as diferenças que apresenta uma função segundo o estado de consciência, é preciso compreender que a consciência de um homem e as funções de um homem são dois fenômenos de ordem completamente diferente, de natureza totalmente diferentes, dependentes de causas diferentes, e que um pode existir sem o outro.

As funções podem existir sem a consciência e a consciência pode existir sem as funções.

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“A sombra é tudo aquilo que está em nós que não gostaríamos de ser. A sombra se apresenta com muitas faces: aterrorizada, ambiciosa, zangada, vingativa, maligna, egoísta, manipulativa, preguiçosa, controladora, hostil, feia, subserviente, vulgar, fraca, crítica, censora etc. Devemos nos perdoar por sermos humanos, imperfeitos”. Afirma Debbie Ford, em seu livro “O Lado Sombrio dos Buscadores da Luz”, da editora Pensamento/Cultrix.

Em consultório percebemos que as pessoas se ressentem por serem boas e fazerem bem os seus papéis (de mães, esposas, funcionárias, filhas, etc.)  quando não obtém resultados ou aprovação, muitas vezes se vendo criticadas por detalhes irrelevantes. O primeiro impulso é sempre de culpar o outro por não lhe acolherem ou elogiarem, mas, na verdade, as pessoas do lado de fora apenas estão fazendo o seu papel de mostrarem a elas o quanto elas estão vivendo apenas uma parte delas mesmas. Essas pessoas passaram um bom tempo de suas vidas ouvindo “não seja isso ou não faça aquilo”.

Essas “más qualidades” acabam constituindo sua sombra. E, com o passar do tempo, toda essa repressão torna-se uma bomba-relógio ambulante esperando para explodir em cima de qualquer um que cruze o seu caminho. Perde-se muito tempo tentando esconder o lado imperfeito de si mesmo que acaba não vivendo o lado bonito, Todos nós temos uma sombra que é parte da nossa realidade total, e essa sombra está presente para nos indicar em que ponto estamos incompletos. Como consequência, você não tem paciência com os outros que expõem suas imperfeições, tornando-se intolerante e crítico(a). Diante do seu julgamento, ninguém é bom o bastante, o mundo é um lugar terrível e todos estão metidos em encrenca. Você começa a achar que o seu problema surgiu porque nasceu na família errada, teve os amigos errados, seu rosto e seu corpo não são o que deveriam ser e, ainda por cima, mora na cidade errada e freqüenta os lugares errados. Você acredita que essas circunstâncias externas são a causa da sua solidão, da raiva e da insatisfação.

Nossa sombra nos ensina sobre o amor, a compaixão e o perdão. Aqueles ingredientes necessários para tocarmos a nossa essência que convive bem com os dois lados de expressão. Lembre-se que você ainda vive num sistema de dualidade, portanto, precisa viver as duas manifestações ditas do bem e do mal.

Mas a repressão dessa sombra também nos leva a reprimir a nossa luz. Muitas vezes não deixamos sair os nossos melhores talentos pelo mesmo motivo. O que reprimimos seja de bom ou de ruim, nos faz restritos, limitados em nossa vida.

Cada filamento do seu DNA carrega a história completa da evolução da vida e das características de toda a humanidade. Isso significa que você, nesse momento, pode ser qualquer coisa, basta focalizar dentro de você essa característica e ela se projetará em oportunidades externas. Se você se vê como uma pessoa feliz, bem sucedida, realizada em seus projetos, isso se expressará do lado de fora, criando os caminhos pelos quais você trafegará. Somos o que pensamos, por isso, o que pensamos encontra primeiro eco do lado de dentro para depois buscar o espelho do lado de fora e vice-versa. Nós escolhemos esquecer quem somos e depois esquecer que esquecemos.

Na infância, temos as primeiras referências que são pai e mãe. Essas imagens ficam internalizadas em nós e passamos a admirá-los, respeitá-los, e também odiá-los. A partir de então, ou nos aproximamos deles copiando-lhes o comportamento ou nos distanciamos deles sendo diametralmente opostos. De um jeito ou de outro, não somos nós mesmos. Na terapia da integração familiar, o que o paciente faz é conversar, através da minha canalização dessas imagens, com cada um deles e aceitá-los, acolhê-los e libertá-los, pois se eles são assim, é para espelhar o que somos e viemos aqui tratar em nosso projeto reencarnatório. Se o pai é alcóolatra, ele veio para tratar do seu alcoolismo, Se sua mãe é perversa, é para te ajudar a tratar de sua perversidade. Quando acolhemos e perdoamos eles, na verdade estamos nos perdoando sobre aquilo que aqui viemos cuidar.

Amor e compaixão por nós mesmos é um sábio sentimento para que possamos viver plenamente o nosso Ser. Não se chega à luz sem atravessar a sombra. Todos os seres que atravessam o nosso caminho estão nos mostrando algo que se reagirmos mal, certamente ainda não está resolvido em nós ou mesmo consciente. Quanto mais reprimimos o que nos parece feio em nossa personalidade, menos expressamos o que é considerado bonito nela.

Um exercício bom para isso é fazer uma lista do que não gostamos em nós, junto com as características que vivemos criticando nos outros. Depois da lista pronta, inicie dizendo “eu reconheço e me aceito assim………… (comece pelo item 1) e me perdôo, pois tenho certeza que tornarei essa característica a meu favor”. Faça para cada um deles, mesmo que seja difícil no começo, repita quantas vezes puder. Verá que as pessoas que o estão provocando sobre as coisas que você não quer ver em você, mudam de atitude e até de sentimentos sobre você.

Tudo isso serve também com o lado considerado positivo. Se você admira uma qualidade em alguém, ela estará reprimida em você também. Repita o exercício acima para o positivo. Deixe-o sair. Se alguém traz algo para você ver e você fica fascinado(a), com certeza esse talento faz parte de você. Permita-o existir livremente, mas sem compará-lo, pois cada um de nós é talentoso de uma forma especial.

Todos somos o que todos são. Por isso, nada de julgar ou criticar. Diga a você que se aceita com todas as partes boas ou ruins reconhecendo-as com o mesmo amor. A partir dessa atitude você está pronto(a) para SER plenamente.

Por Celso Lugão

Especializações em PSICOLOGIA CLÍNICA E HOSPITALAR. Exerce ATIVIDADE CLÍNICA fazem mais de 30 anos, tendo criado sua abordagem particular de PSICOTERAPIA ESTRATÉGICA. Possui MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL PELA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Atualmente é professor do INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UERJ tendo criado o setor de PSICOTERAPIA ESTRATÉGICA NO SPA DA UERJ EM 1988 e desde então atua como SUPERVISOR desta abordagem. Participou de forma intensiva do PROCESSO DE VALIDAÇÃO DA HIPNOSE como TÉCNICA PASSÍVEL DE SER UTILIZADA PELO PSICÓLOGO, fato este reconhecido pela SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPNOSE e pela SOCIEDADE DE HIPNOSE E MEDICINA DO RIO DE JANEIRO. Possui experiência em várias áreas da psicologia, a saber: EPISTEMOLOGIA DAS PSICOTERAPIAS (DESENVOLVIMENTO DE REFERENCIAIS EPISTEMOLÓGICOS E CLÍNICOS; ESTUDO DAS PERSPECTIVAS ESTRATÉGICA, ESTRUTURAL E SISTÊMICA EM RELAÇÃO AO INDIVÍDUO E A FAMÍLIA) ; PSICOLOGIA CLÍNICA E HIPNOLOGIA (TRANSDUÇÃO DA INFORMAÇÃO MENTE-CORPO, PSICOIMUNOLOGIA, TÉCNICAS HIPNÓTICAS, CORPORAIS, PSICODRAMÁTICAS E ESTADOS ALTERADOS DA CONSCIÊNCIA); TANATOLOGIA (MORTE, LUTO E SEPARAÇÕES); PROCESSOS DISSOCIATIVOS (TRAUMA, DISTÚRBIO DISSOCIATIVO DA IDENTIDADE, SÍNDROME DO STRESS PÓS-TRAUMÁTICO, SÍNDROME DO PÂNICO, SUICÍDIO, DROGADICÇÃO, PSICOSES); E ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA SUPERVISÃO (TREINAMENTO, INFORMAÇÃO E FORMAÇÃO ). (Text informed by the author)

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