I Parte – Sobre a hipnose
A hipnose é uma técnica, e como toda técnica tem seu aspecto problemático se for mal aplicada. Os riscos da hipnose são os mesmos que qualquer outra técnica mal utilizada. Um açougueiro experiente percebe quando um novato usa mal o facão e estraga a peça de carne. O facão é a técnica. Donde o velho ditado: a técnica certa em mãos erradas faz da técnica certa a técnica errada. Logo…
É importante que os profissionais estejam habilitados em relação ao uso da hipnose, isto é, ao se fazer uma intervenção é preciso conhecer a metodologia e as teorias que sustentam as técnicas. Logo, o uso de qualquer técnica só pode ser seguro se houver competência da parte do técnico ou profissional responsável.
Lembrando que estes argumentos servem para quaisquer técnicas é preciso se entender que o campo da hipnologia (os estudos teóricos sobre a técnica hipnoidal, a hipnose propriamente dita) possui ligações com outros ramos importantes do saber. O conhecimento da psicologia, especificamente das psicoterapias, e amplas noções sobre o psiquismo humano em seus aspectos interculturais, religiosos e familiares fazem-se necessários porque cada cliente tem seu modo particular de agir e ser.
Assim, um profissional que resolva hipnotizar alguém durante uma psicoterapia deve ter claro para que está fazendo aquilo, o que pretende conseguir e também os obstáculos que poderão surgir. É fato que existem pessoas que têm mais problemas que outras. Com este tipo de cliente, que possui, por exemplo, uma síndrome dissociativa, a dificuldade será maior exigindo experiência do profissional como em qualquer outro campo. Um engenheiro capacitado para construir uma casa sabe a diferença que existe se tivesse de construir uma represa ou uma usina nuclear. Portanto o profissional deve estar capacitado para aquele caso em particular. Se alguém tem experiência com psicoses, fobias e drogas e também com hipnose certamente seus clientes terão um serviço de qualidade.
Resta informar que toda técnica é usada dentro de uma metodologia, e esta metodologia é sustentada por uma teoria, que por sua vez tem explícita ou tácita uma visão de mundo (Weltanschauung) sobre os valores, sobre as pessoas e suas índoles e capacidades.
Mais abaixo, na segunda parte, seguem alguns esclarecimentos sobre a hipnose. São temas que preocupam as pessoas e que elas muitas vezes não verbalizam nos consultórios, mas que o clínico experiente deve perceber e dar um jeito de ir respondendo ao modo não-verbal. Diga-se que também há clientes que perguntam quando percebem que a hipnose poderá ser usada.
Evidentemente, para o profissional bem informado sobre este campo chega a ser respeitosamente hilária esta preocupação dos clientes porque o uso formal da hipnose, isto é, quando se cria um ritual para relaxar, etc. é apenas um dos usos da hipnoterapia e este é bem mais fácil de ser percebido. Quando se usa a hipnose ericksoniana entretanto, se permite o uso “informal” da técnica. Assim, durante uma “simples” conversa pode estar em andamento um jogo de metáforas e palavras, ritmos e contextos emocionais, técnicas de ancoragem, visando modificações no quadro clínico que o cliente nem percebe porque ele não sabe que aquilo é hipnose também.
Apenas um exemplo de minha safra: certa vez, atendendo uma criança que tinha medo de gato…. Quando ela me contou isto sua face mudou, sua voz foi quase um sussurro, misturando vergonha, medo e perplexidade. Bem… Aconteceu que na hora de eu falar gato, espirrei (e aí aproveitei para dar um espirro especial; é difícil descrever certos comportamentos cômicos, então apelo para a imaginação do leitor, eu sacudi a cabeça e as bochechas, não sei por que fiz aquilo, foi impulsivo, talvez para ocultar “minha falha”, certamente Freud teria as explicações).
Bem… A criança que estava séria naquele momento, pois havíamos começado a falar do seu problema, deu uma risada… Então, eu usei isto e quando fui retomar o assunto gaguejei propositalmente… “Bem, que maldito é este bicho, você gostou não é? Fui falar ga..ga..ihh!..ga..ga… ô diabo… Não, você não tem medo de diabo ( e ela ria com minhas trapalhadas), você tem medo de gago… ( Pausa para ela perceber, e cair na gargalhada de novo)…
Gago não! Gaaaaa…to. Pronto consegui! Começamos os dois a rir muito e então eu peguei uma revista que tinha uma foto de um gago e fui abrindo devagar, meio que escondendo o que tinha dentro, olhando enviesado, de modo que só eu via…Como alguém num jogo de cartas que puxa uma carta e faz um suspense sobre a mesma dando a entender que há algo importante ali, eu ia fazendo cara de espanto (isto espelhava -pacing- a perplexidade dela ao falar gato) misturada com uma fisionomia cômica (esta era uma nova associação, ou seja, eu criei uma âncora cômica em relação ao objeto fóbico).
A criança espelhava as minhas fisionomias e quando eu abri a revista dei um espirro e praguejei contra o gago, ela riu muito. Fazendo o mesmo que o leitor atento, ela gritou… “Você errou, não é gago e sim gato!” (O leitor percebe o erro duas vezes – “errata: leia-se foto de um gato”).
Bem, isto é hipnose. Lá estava ela pronunciando o nome fóbico sussurrado antes de uma maneira nova, rindo e me corrigindo. E pegando a revista com o gato para me bater e me corrigir enquanto eu propositalmente insistia no erro.
(Catarse?!, pode ser, rss)
Neste caso existem associações de emoções, humor (o leitor que já viu o cômico José Vasconcelos imitando um gago pode imaginar a cena, é claro que eu sou melhor que ele, risos) , que acabam implodindo o objeto fóbico.
A tensão da fobia e da própria situação de enfrentamento desta é descarregada através do uso da revista para bater no terapeuta e o corrigir. Num nível simbólico não se pode esquecer que o gato está dentro da revista e dominado pela mão da criança que bate com ele no terapeuta trapalhão. Muitas análises podem ser feitas, mas este não é o objetivo deste artigo.
Para finalizar esta parte pode ser que certos ditados tenham sido corrompidos com o tempo, por exemplo: “Quem não tem cão, caça com gato… Talvez fosse: quem não tem cão, caça como gato… Ou seja, sozinho!”
E, como dizem também que a curiosidade matou o gato espero que o leitor se contente com as explanações acima sobre o caso, mas se quiser saber que fim levou o caso…
A mãe da criança disse que o problema era com os gatos de rua e um gato do vizinho em particular.
Bem, após esta e mais umas três outras sessões a criança não mais se importou com os gatos e eventualmente os achava engraçados, chegando mesmo certa vez a urinar na direção de um gato quando ele se aproximou dela num passeio em um bosque.
O leitor atento agora já entendeu que a criança era um menino!
“As crianças estavam fazendo pipi num canto, quando um gato foi passar lá por perto”, disse a mãe. Ele então girou e tentou acertar o gato que fugiu.
Eu e a mãe rimos muito. Se um dia ela ler este artigo talvez torne a me ligar porque em uma das sessões usei metáforas sobre os significados de gato… Ela talvez não tenha entendido o que estava fazendo, deve ter pensado, psicólogos são um tanto doidos mesmo, para que ele está me contando tanta coisa sobre gatos?, o problema aqui é o medo de meu filho…
Mas, eu continuava falando sobre os significados de gato…
O gato como galã… “Ele é um gato!”
Ou gatos como animais usados nas seguranças dos templos tibetanos, ou adorados no Egito…
E também introduzi uma conversa sobre esta vergonha de um menino ter medo de gato.
Ter medo de gato ou de qualquer outro animal é algo esperto e o nome não é vergonha, mas sim respeito (reenquadrei, técnica “reframe”).
Eu disse ao menino que devemos respeitar os animais e que em algumas situações eles se sentem desrespeitados e agem exigindo respeito, mas “se eles nos desrespeitam e nos deixam alertas, alguns chamam isto de medo (disse-lhe isto casualmente, mas dando tempo para captar), então devemos agir.
E os meninos neste ponto têm uma vantagem sobre as meninas porque mesmo se forem pegos com as calças na mão, isto é, de surpresa, eles podem mirar o “fuzil” e disparar”. A mãe não sabia mas a ideia de “fuzilar” o gato com xixi fora embutida pelo terapeuta. Afinal…
Crianças adoram pequenas transgressões e riem muito, porém a metáfora foi literalmente usada e ele tentou fuzilar aquele gato que o desrespeitou no ato de pipizar, isto é urinar.
II Parte – Temas que preocupam os leigos sobre a HIPNOSE.
Quando alguém é hipnotizado perde a consciência?
Não. A sua mente consciente irá permanecer alerta o tempo todo e mesmo em um transe profundo (seja lá o que isto for), a mente consciente irá estar vigilante em caso de transgressões de sistemas de valor.
O cliente fica dominado pelo hipnotizador?
Não. Toda hipnose é sempre auto-hipnose. Necessita haver uma relação de confiança entre as pessoas, se o código de valor for ameaçado a pessoa sai do transe imediatamente. O hipnotizador é um guia ao estado de transe.
Portanto, os conceitos morais do cliente não podem ser deturpados, pois quando o são o transe hipnótico é interrompido.
Ninguém aceita sugestões que entrem em conflito com seu código de ética, crenças e valores morais.
Certas percepções podem ser mudadas, mas a sua ética subjetiva não se altera, assim se o hipnotizador diz que um revólver é uma maçã inofensiva o sujeito sai do transe.
Imaginando situações fictícias… Se houvesse um crime oriundo desta prática, seria porque a pessoa hipnotizada realmente queria matar a outra e aproveitou-se da situação, assim com também o hipnotizador, que é claro não tem princípios éticos e morais, não fazendo jus ao título de profissional.
E no caso de um comando para a pessoa fazer sexo com o hipnotizador?
Da mesma forma, se alguém recebe tal comando e faz sexo é porque queria fazer sexo, senão sai do transe e processa o profissional ou cai fora dali o mais rápido possível. E, se fizer sexo, estará caracterizado um abuso profissional dos mais graves, digno de punição exemplar para o profissional, que se valeu de seus conhecimentos para seduzir o cliente.
Historicamente a hipnose “de palco” sustentou este mito ao substituir padrões de percepções (cebolas ou limão por maçãs – em sabor – por exemplo, para efeitos de diversão) , mas é importante que se saiba que não se consegue, por mais hábil o hipnotizador, dominar condutas conflitantes e transgredir códigos morais.
Alguém pode ser hipnotizado se não quiser?
Não. Imagine que alguém resolve ir ao teu consultório só para te desafiar, e diga “duvido que você me hipnotize”… Agora imagine que alguém te pede uma carona de carro e então te diz “duvido que você transe comigo!” É óbvio, comparando as situações, que existe um desejo latente de que aconteça aquilo. O transe hipnótico é um processo cooperativo. É um fato muito bem estabelecido que ninguém pode ser hipnotizado contra sua vontade e, mesmo quando hipnotizada, a pessoa pode rejeitar qualquer sugestão.
Qualquer um pode ser hipnotizado?
Sim, mas somente se quiser. A única coisa necessária é o desejo de ser hipnotizado, ou permitir conscientemente que isto aconteça diante dos esclarecimentos do terapeuta do por que se irá utilizar esta técnica, quando a usamos formalmente. Pois, como no exemplo do menino e do gato, a técnica ericksoniana sugere outro modo de se pensar sobre a hipnose. Este uso é muito mais perigoso, se este fosse o tema, do que o uso ritual comumente conhecido. O uso ritual, para exemplificar, é aquele em que você percebe o facão na mão do açougueiro… Na modalidade psicoterápica influenciada pela hipnoterapia ericksoniana você não percebe que existe um facão, aos olhos não treinados o facão é invisível. Agora, do que você teria mais medo? A figura do facão é proposital para tentar se entender a comparação entre os dois usos da hipnose: o transe formal, que assusta alguns clientes e gera mitos e o transe informal.
Quais os obstáculos para a hipnose?
Certos estados, pessoas alcoolizadas, ou que usaram recentemente drogas com ação sobre a mente (opiáceos, estimulantes ou hipnóticos), ou então aquelas com níveis de inteligência muito abaixo do normal (oligofrenia).
Crianças pequenas podem ser hipnotizadas?
Sim, dependendo, da idade, uma vez que elas são muito imaginativas e acreditam e confiam muito, e que a linguagem do inconsciente é metafórica.
Existem vários métodos de indução ao transe, e a indução mais apropriada deve ser utilizada sob medida para aquela determinada pessoa, para a obtenção das metas terapêuticas.
O hipnotizador tem um poder especial?
Não. Muitos hipnotizadores tradicionais e os hipnotizadores de palco ainda sobrevivem deste mito, mas as habilidades do “sujeito” e sua motivação para a hipnose são muito mais importantes que a personalidade “magnética” do hipnotizador.
Milton Erickson sustenta que a hipnose na realidade é um poder (recurso) do “sujeito”, é um potencial do cliente. O hipnotizador é apenas um espelho a guiar o cliente ao estado de transe, e a explorar recursos que se encontram no inconsciente para fins terapêuticos.
Pode-se entender então que as sugestões usadas são para evocar recursos inconscientes latentes já aprendidos, e não no sentido de colocar “sugestões” num inconsciente vazio, como hipnotizadores autoritários e arcaicos apregoam.
Portanto, a hipnose não leva as pessoas a revelar segredos ou compartilhar informações que elas não querem.
Se o hipnotizador for embora a pessoa ficará lá em transe, dormindo para sempre?
Não. Mesmo nesta absurda situação, do hipnotizador ir embora, ou no caso do medo de algo “dar errado no processo de hipnose”, a pessoa acaba saindo do transe naturalmente, via sono.
Algumas vezes, como é muito agradável para o cliente ficar em transe hipnótico, a pessoa pode escolher ficar mais tempo em transe ao invés de retornar à vida “problemática” que enfrenta no dia a dia. Mas acabará voltando via sono natural em que a hipnose se transforma, ou as sugestões do hábil hipnoterapeuta.
Sobre o autor
Celso Lugão da Veiga.
Professor adjunto da Universidade Católica de Petrópolis, aonde leciona desde 1981, e da UERJ, desde 1986.
Tem interesse numa vasta gama de temas: desde a filosofia da ciência e a história da psicologia até as inúmeras abordagens psicoterápicas e temas ligados à epistemologia, como a astrofísica e suas implicações filosóficas; é também responsável por cursos de extensão em Tanatologia (Psicologia da morte), psicoterapia e hipnoterapia.
Uma curiosidade, sobre o ditado: a curiosidade matou o gato.
Antigamente, na Idade Média, na época das grandes epidemias, na Europa, as pessoas tinham muitas crenças pois a peste negra transmitida pelas pulgas e moscas infectadas por bactérias dos roedores (ratos negros) dizimava as populações. Inclusive as brincadeiras de roda infantil atuais ainda trazem a lembrança de uma brincadeira surgida em Londres em 1665, durante a peste. Na canção original as crianças cantam “Ponham uma coroa de rosas, encham o bolso de flores”, simulam espirros (Atchim!Atchim!) e dizem “todos nós caímos”. As crianças simbolizavam as etapas da contaminação, os sintomas e a morte, a queda de todos.
Então as pessoas associavam o rato e também o gato preto, predador natural do rato, que também se contaminava com as pulgas e a comida infectada, então elas não gostavam de gatos, e aprendiam que os gatos pretos traziam má sorte. Assim preparavam armadilhas. A Curiosidade do gato realmente acabava levando-o a morte. Por extensão, a expressão “A curiosidade matou o gato” era então usada por líderes para inibir a busca do conhecimento e pregar mentiras.” Sem dúvida, é um recurso poderoso que pode banir a epistemofilia, o amor ao conhecimento. E assim é usado sempre que as autoridades, sejam pais ou políticos temem que seus subordinados sigam por novos caminhos, que para eles são percebidos como perigosos.
Malomar Lund Edelweiss: Psicanálise e hipnose
(Santa Cruz do Sul, 11 de janeiro de 1917 — Belo Horizonte, 6 de outubro de 2010 ) foi um psicanalista, hipoanalista e hipnoterapeuta brasileiro)
Malomar Edelweiss formou-se em 1942 em Direito pela Faculdade de Direito de Porto Alegre e em 1952 tornou-se professor universitário no Rio Grande do Sul na Faculdade Católica de Filosofia de Pelotas, trabalhando como filósofo e diretor. Interessou-se por Freud e aprofundou seus conhecimentos estudando psicanálise didática em Viena com o escritorIgor Caruso. Acreditava que a teoria psicanalítica fazia parte do acervo do conhecimento psicológico.
A atividade clínica de Malomar desenvolveu-se assimilando os procedimentos psicoterapêuticos de Milton Erickson, enfatizando o uso da hipnose na psicanálise. Em 1982 começou a praticar a hipnoanalise e a hipnoterapia, constatando que o transe hipnótico é instrumento valioso tanto para agilizar o acesso ao inconsciente,quanto para o aumento da eficácia dos processos terapêuticos psicossomáticos usados. E em 1956 deu início ao Círculo Brasileiro de Psicanálise no Rio Grande do Sul e na cidade de Belo Horizonte em 1963, fundou o Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, com três analisandos. É o primeiro analista didata de Minas Gerais, sendo considerado o fundador da Psicanálise nesse estado. Fundou o Curso e Grupo de Estudos de Hipnoterapia e Hipnoanálse, ainda em atividade em Belo Horizonte, para a formação de profissionais especializados no estudo da hipnose e na atividade clínica aliada ao seu emprego.
http://www.malomar.com.br/internas/casos/caso01.html
Seguidor das idéias de Freud, professor fala sobre as angústias que envolvem a sociedade
Psicólogo, psicanalista e hipnoterapeuta, Malomar Lund Edelweiss, teve duas linhas de formação básica: a jurídica e a filosófico-teológica. Tornou-se professor universitário em 1952, no Rio Grande do Sul, pela fundação da Faculdade Católica de Filosofia de Pelotas, na qual assumiu a cadeira de filosofia, além do cargo de diretor. Apaixonado pelas idéias de Freud e autor do livro Com Freud e a psicanálise, lançado pela Editora Lemos, ele concentrou seus estudos nos fenômenos hipnóticos e se dedicou à prática da hipnoanálise e da hipnoterapia. Fundador do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, também criou o curso e o Grupo de Estudos de Hipnoterapia e Hipnoanálise, para a formação de profissionais especializados no estudo e na atividade clínica aliada ao emprego da hipnose na área de saúde. Em entrevista ao Bem Viver, ele fala sobre os benefícios da hipnoterapia no processo terapêutico e a resistência de determinados profissionais em aceitar práticas como a psicoterapia breve.
Qual é o principal legado de Sigmund Freud?
É imensurável o legado de Freud. O principal é a descoberta do inconsciente como uma realidade psíquica.
Quais são as principais funções da hipnose e da psicanálise?
Psicanálise e hipnose se complementam, daí o termo usado pelos hipnoanalistas: hipnoanálise. A meu ver, ainda é difícil para os psicanalistas clássicos ou ortodoxos entenderem isso. É algo ainda pouco divulgado. É sabido que Freud começou pelos caminhos da hipnose e, como era uma característica dele, nunca abandonava uma idéia. Sempre abria novas vertentes. Aconteceu com a primeira e segunda tópicas, por exemplo. E, hoje, retomamos uma idéia inicial de Freud, como diz o título de meu livro, sem nenhuma pretensão de me igualar a Freud, como uma continuação dessa idéia, já acrescida de todo o caminho percorrido pela psicanálise até os dias de hoje.
E o uso dessas práticas na odontologia e em outras áreas, por exemplo?
A hipnose nada mais é do que um estado de consciência alterado, no sentido de alter = outro, ou seja, diferente do estado de vigília ou do sono fisiológico. Nesse estado, o indivíduo fica permeável à entrada das sugestões hipnóticas. Sugestões que são passadas de maneira indireta pelo hipnoanalista ou hipnoterapeuta experiente, sério, honesto e, principalmente, competente. Na odontologia, como em diversas outras áreas, essas sugestões hipnóticas são passadas ao cliente em forma de truísmos, ou seja, verdades incontestáveis, que são ditas a ele no estado de transe hipnótico. Por exemplo: “Você está aí sentado nessa cadeira , respirando a seu modo, com os pés no chão, bem apoiados e pode sentir-se à vontade como preferir”. Assim você vai preparando o cliente para ir relaxando e entrando no estado alterado de consciência, o que facilita o trabalho psicanalítico.
Uma das suas referências é Igor Caruso. Ele criou o Círculo Vienense de Psicologia Profunda. Como foi sua experiência em Viena e qual o objetivo desse projeto?
Em 1954, a psicóloga Gerda Kronfeld e eu decidimos ir à Viena conhecer Igor Caruso. Ele criou o Círculo Vienense de Psicologia Profunda. O objetivo desse projeto foi conhecer e aprender a psicanálise. Fiz minha análise didática com o professor, assim como a colega Gerda, que ainda é viva, beirando os 100 anos. Voltamos ao Brasil, orientados por Caruso a fundar aqui o Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda, hoje chamado de Círculo Brasileiro de Psicanálise.
E o seu livro? Sobre o que trata?
O livro tem duas partes: a primeira é composta de artigos sobre temas clássicos, como relações objetais, o prazer, metapsicologia e algumas coisas desse tipo. Mas como ele ia ficar muito volumoso, resolvi abreviá-lo e coloquei alguns artigos que representam a minha transição sem deixar de ser psicanalista, para a volta ao uso da hipnose como um facilitador de tudo aquilo que a psicanálise trouxe em prol da restauração da saúde psíquica.
O que é o Círculo Psicanalítico de Minas Gerais e qual a sua função?
O Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, fundado por mim em 1963, em Belo Horizonte, é filiado ao Círculo Brasileiro de Psicanálise. Sua função é formar psicanalistas. Isso inclui, a freqüência aos seminários ministrados por analistas, didatas, receber supervisões e apresentar trabalhos.
Por que ou do que sociedade está doente? Por que alguns médicos são tão avessos a práticas como a hipnose?
É uma pergunta um tanto ou quanto difícil de responder. Mas, se olharmos à nossa volta, veremos que já estamos vislumbrando progressos notáveis, na área da saúde física ou mental. Não é debalde que a medicina psicossomática está evoluindo a olhos vistos. Os médicos e profissionais da saúde, que antes eram avessos a práticas como a hipnose, estão, devagarinho, se aproximando.
Em 1956, no Rio Grande do Sul, deu início ao Círculo Brasileiro de Psicanálise. Em 1963, em Belo Horizonte, fundou o Círculo Psicanalítico de Minas Gerais. Foi o primeiro analista didata neste estado. Após desligar-se das instituições que criara, fundou o “Curso e Grupo de Estudos de Hipnoterapia e Hipno-análise”, exerceu suas atividades em Belo Horizonte até os seus últimos dias, para a formação de profissionais especializados no estudo e atividade clínica aliada ao emprego da hipnose na área da saúde. Suas idéias sobre a interligação entre a psicanálise e a hipnose estão expressas no livro “Com Freud e a Psicanálise, de Volta à Hipnose” (1994).
José Thomaz da Cunha Vasconcellos Neto (Rio Branco, 20 de março de 1926 — São Paulo, 11 de outubro de 2011) foi um humorista,ator, diretor, produtor, radialista e compositor brasileiro, considerado pelos seus colegas de profissão como o pioneiro brasileiro no gênero humorístico atualmente chamado de “stand up comedy“.
Ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Vasconcellos
(A piada abaixo é um belo exemplo da metodologia de utilização, conforme definida por M. H. Erickson)
Em 1964, ao retornar de uma viagem a Los Angeles, José Vasconcellos teve a ideia de construir a “Vasconcelândia”, um parque temático numa área de um milhão de metros quadrados, no município de Guarulhos. Investiu todos os recursos que obteve ao longo da vida artística, sem obter nenhum apoio oficial. No entanto, o projeto fracassou e quase o levou à falência.[4]
Continuou trabalhando na TV, em papéis como o do gago Rui Barbosa Sa-Silva na Escolinha do Professor Raimundo, além de se apresentar em casas de espetáculos por todo o Brasil.
Em 2009, foi lançado em DVD o documentário Ele É o Espetáculo, do cineasta Jean Carlo Szepilovski, uma homenagem ao conjunto de sua obra. Narrado pelo próprio humorista, apresentava depoimentos de Jô Soares, Chico Anysio e trecho de filmes e programas de rádio e TV em que atuou durante a carreira.
Seu último personagem no cinema foi Barbosa, no filme Bom Dia, Eternidade (2009). Afastado da televisão devido ao mal de Alzheimer, passou seus últimos anos em sua casa na cidade de Itatiba, interior de São Paulo.
Morreu em 11 de outubro de 2011, em decorrência de uma parada cardíaca.